sábado, 9 de abril de 2011

À PROVA DE BALA

Foto: Tiago Lima, Novo Jornal

POETA À PROVA DE BALA
Anderson Barbosa, do Novo Jornal (10 de abril de 2011)


“UM COVARDE PROJÉTIL não me abala, mas a crueldade demasiadamente humana alheia. Resta-nos sopros de encantamento, poesia & vida, contra esse vil metal e reles mentalidades”. O poema é de Plínio Sanderson Saldanha Monte, de 48 anos, e foi criado após uma experiência pouco inspiradora.

Ele passou a semana internado no Hospital Papi, no Tirol, se recuperando de um tiro que o atingiu no tórax, quando reagiu a um assalto ocorrido no início da semana na praia de Santa Rita.

Na sexta à noite o poeta recebeu a reportagem do NOVO JORNAL e, além de exercitar sua arte, também
falou sobre o episódio.

Extrovertido, Plínio não se deixou abater pela violência.

Totalmente fora de perigo, o poeta é só otimismo. Aliás, em momento algum, segundo ele, houve sentimento oposto. “Nunca me passou pela cabeça que iria morrer. Muito menos vi filminho sobre minha vida ou ouvi os anjos me guiando em direção a uma luz branca. Teve nada disso”, rechaçou, sorrindo.

Sentado numa cadeira, Plínio estava com um notebook sobre o colo. Contente e totalmente descontraído, nem parecia que estava internado havia seis dias. Antes, ele foi submetido a procedimentos médicos que
estancaram o sangramento e trataram da perfuração causada pela bala calibre 38 que o atingiu.

 O projétil, que permanece alojado em suas costas, perfurou o pulmão direito e também o fígado.

“Disseram que a bala ia fi car em meu corpo. Mas os médicos já me disseram que vão tirar. Ela andou
e agora está por baixo da pele, na região subcutânea das minhas costas. Se não cortarem pra tirar
ela vai rasgar a pele e sair sozinha”, brincou, dizendo que a extração será simples. “Basta pegar um
bisturi, me cortar a carne e tirar”, gargalhou.

Além de a recuperação estar ocorrendo em ritmo acelerado, Plínio tem outro motivo para estar feliz. Neste domingo ele deve receber alta médica e voltar pra casa. No mais tardar, na segunda-feira ele já estará de volta ao convívio familiar.

Ao se despedir da reportagem, pediu alguns minutos e declamou:

“Poesia vivo. Vivo a poesia. Vivo a
poesia de ser. Vivo a poesia de ser o
que soa. Viva a poesia de ser o que.
Viva a poesia de ser. Viva a poesia.
Poesia viva”.

A pedido do NOVO JORNAL, quatro poetas e amigos de Plínio e dois ilustradores, Alexandre Gurgel e Pedro Pereira, prestaram homenagem ao artista baleado. Criaram versos e produziram obras para exorcizar o acidente.

DA ANTE-SALA DO MEU PEITO
EDUARDO ALEXANDRE
Para Plínio Sanderson

tubinho de Caranguejo a tiracolo
- carlancinha,
tapué com uvinhas moscatel por providência
é tira-gosto-e-palavras para um molha-garganta providencial.
ele é doido de pedra, e dizem(-no) ensandecido,
a verve não cessa; não falta assunto; nem cabeça
feita
para pensar e não pensar, atirar a toa, dizer, opinar
o nunca opinado, diferencial
de amante de pouca fé e tesão muita, entre as raras,
pela sua Rita pelos bebeus abençoada -
anteparo, refúgio, gozo quase mortal.
expele pedras que rasgam entranhas;
calçam História da cidade adotada desde menino:
práxis, incontinência uteroverbal.
seus olhos enxergam longe, esbugalham-se,
avermelham-se americamente nos domingols de futebol.

um tiro, uma bala alojada na ante-sala do peito, piada
assunto de quem jamais cala:
fala fala fala
aquele que se era doido
de pedra, hoje é doido de bala!

Levanta-te e anda, esse menino:
tua sina é sã, não é sida:
sempre será – ensandecida.
peripatética, estafetária,
Atinge a todos
como síndrome de Volontê!

Embriagado de pureza
Pedro Pereira

O poeta libertário e performático PLÍNIO SANDERSON
ensandecido na amplidão da aurora boreal e do verde azulado do mar,
vislumbrando a revoada de gaivotas e um cardume de sereias se encanta
e é encatado pela bela e frágil natureza. Sentindo o espírito embriagado
de pureza da santa RITA dos bebeus. Quando o sol acordou o dia, veio
um anjo torto, afetado das impurezas do mundo, feriu o poeta alojando
um corpo estranho no seu corpo que era fechado para as atrocidades
do mundo mas, completamente livre a todas energias positivas imaginárias
nascendo um conflito das naturezas: humana versos cósmica. O sábio poeta
recolheu as palavras e guardou-as para degustá-las em noite de lua cheia
na esperança de que a poesia unida a todas as artes salve a humanidade
e fortaleça a integridade espíritual, mental, física e ética dos seres racíonais.



POIS PLÍNIO PÓS
Carlos Gurgel
( agora nessa hora sem amém )

mais um plínio resiste. são tantos plínios. um que arrebata multidões
e some. outro que arrebenta corações e fome. mais um plínio que
insiste. são inúmeros plínios. um que interesseiramente desfralda seu
desassossego e voa. outro que insistentemente declara seus bordejos na
boa. são tantos, inúmeros plínios. um que noturnamente recolhe guerras
e adormece. outro que humanamente escolhe serras e amadurece. são
milhares de plínios. um que olha, passa, fricciona segredos e vai.
outro que pára, observa, ambiciona desejos e sai. são tantos, que nem
sei quantos mais. um que escreve em anéis suas memórias. outro que
descreve em pincéis suas pretorias. são tantos, muitos,
inclassificáveis plínios. um que despe o dia e corre como um lobo.
outro que cresce na via e bebe como um bobo. são infinitos plínios.
tantos. muitos. quase imperceptíveis plínios. um que chora como um réu
e vomita relíquias. outro que obra como um fel e orbita arnicas. são
mais, demais, ademais plínios. um que lança chamas e acontece em tudo.
outro que dança damas e endoidece o ludo. são, nem sei quantos mais
são todos e mais um. um uma porra. outro uma porra. são todos os
plínios. que de tão e tantos plínios, se espalham aonde menos sem
reservas. são tantos plínios. que uma bala a mais, uma bala a menos,
ensandecidamente sobrevivemos.

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