terça-feira, 19 de abril de 2011

Contracultura: JOANILO REGO





COM JOANILO, A MÚSICA POP, PAPO, ARCANJOS E POLÍTICOS
Texto: OSAIR VASCONCELOS

Misture-se Noel Rosa, Beethoven, Bach, Brahms, Pink Floyd, Pixinguinha, Bob Dylan, Raul Seixas, o som de John Lennon e o de Tom Jobim, Egberto Gismoti, Rick Wakeman, Eric Clapton, a política de Chico Buarque e Milton Nascimento; acrescente-se a poesia de Federico Garcia Lorca, Pablo Neruda, Rimbaud, as falas do Eclesiastes, a literatura latino-americana, o grito de liberdade e a "capacidade de ouvir trezento milhões de arcanjos em plena praia do Forte”. Derrame isto tudo como um buquê de canções “sobre o corpo desnudo da amada ausente”.

Isto é o caos? É o caos, mas no princípio, diz a Bíblia, havia o caos. O caos, diz Nietzche, é o principio de tudo, aquilo que leva à razão. Quando havia o caos em que se criou o universo, não havia primeiramente o Verbo. Havia a Música. o Som. O som que desaguou contemporaneamente na música de Frank Zappa, Jethro Tull, Emerson, Lake & Palmer, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Hermeto Pascoal, Vinicius de Morais, Gilberto Gil, Queen, Carole King, mas que nasceu muito antes, nas composições da Santíssima Trindade dos três Bs: Beethoven, Bach e Brahms.

E o homem que mistura tudo isso, por gozo à música, por sentir entrar no corpo e no espírito o que ela é, o homem que coleciona quatro mil discos, e os faz viver em dois toca­discos, dois gravadores e dois amplificadores, misturados aos seus seis mil livros e à vontade de gritar liberdade, é Joanilo de Paula Rego, certamente um dos maiores, senão o principal curtidor da música POP, o som da contracultura, o rock.

Digo como Salvado r Dali: Amo o rock como amo tudo o que é dionisíaco violento e afrodisíaco.

NA MÚSICA, DEUS

O “Heiling Dankgesang”, “Canto do Reconhecimento”, de Beethoven, já o fez sentir Deus, na forma como o indicou Aldous Huxley: um "Cortraponto". Foi um orgasmo do amor pela música que começou cedo, ouvindo justamente os grandes mestres. Depois viria o jazz, o spiritual, o blue, o som de Billie Holliday, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald. Dai, o gosto desembocou para a música popular, elétrica, tocada pela “juventude que queria sair de casa, conhecer o mundo”.

O grito maior, considera Joanilo da Paula Rego, foi mesmo de Bob Dylan, a gaita-de-boca, o som arrastado, os poemas longos de desagrado por um mundo que não era (é) bom; a canção-balada "Blowin in the Wind", o Hino dos Direito Civis, os Direitos Humanos, grito tão forte do homem­humano que derruba do trono o homem-poder. Dylan, e depois os Beatles, são as duas marcas na história da Música Pop.

A música de Dylan afinava-se com a poesia de Lorca, Neruda (o grito latino-americano) e de Maiakovski. A música andou, o ritmo foi se agilizando e chegaram Elvis Presley, Billie Halley até que... chegou 1966!

A Revolução da Contracultura, a música liderando a cultura de massa (Mas não a imposta pelos meios de comunicação) e por sua vez liderada por unn loucos cabeludos e geniais ingleses: The Beatles, Os Insetos. Tanto incomodaram Os Insetos que, desde a explosão de 66, nada de novo parece ter sido criado na música. "Sargent Peppers" começou a nova face e "com ela a juventude encarnou os grandes problemas do seu tempo". Quase passo a passo com os Beatles, marcharam os Rolling Stones, diz Joanilo, e destes, como dos primeiros, eles têm tudo."

Mas, para alimentar sons quadrifônicos como o seu, Joanilo de Paula Rego aponta os novos músicos que surgiram com os Beatles e mantiveram o POP SOUND depois que eles se separaram: Pink Floyd, Genesis, Who, Queen, Jethro Tull, Frank Zappa, Rick Wakeman, Jimmy Hendrix., Emerson, Lake & Palmer, Eric Clapton, Queen, King Crimson, Frank Zappa, os desmembrados John Lennon e George Harrison, Janis Joplin. Ligado também à música brasileira, ouve - e gosta de Tom Jobim, Egberto Gismonti, Chico, Milton, Noel, Pixinguinha, Ataulfo e Adoniram Barbosa, Vinicius e Hermeto Pascoal.

Dentro de um Karman­ghia ouvindo Pínk Floyd ou os Beatles que saem dos oito tweeters, oito alto­falantes e um amplificador de 60 watts, "sinto-me viajando à Lua ou dentro do Yellow Submarine, sempre viajando”. Para entender tudo isto, Joanilo exercita apenas seus conhecimentos de inglês, dos aspectos técnicos da música e dos equipamentos sonoros e o gosto pelo som.

MÚSICA E ROCK, O QUE SÃO

Quando define a Música, as palavras de Joanilo evidenciam a influência do Clássico e do Rock. Um dos poucos interessados no fenômeno da música pop no Estado é assim que fala: "No principio era o Som. E o Som se fez carne e habitou entre nós. Diz a Bíblia que no princípio era o Verbo. Antes do Verbo veio o Som, que era a harmonia, o ritmo e o ruído das esferas em movimento, a canção inaudível e intraduzível dos mundos em gestação. O caos animado e o fogo dançante. Algo como Manuel de Falla descreveu na "Dança Ritual do Fogo".

A musica é essa catarse. Esse mergulho no fundo de um poço sem fundo... E depois o retorno à superfície, redivivo e purificado, para a redescoberta do sol e do mar. Ouvir música é a capacidade de ver em pleno dia trezentos milhões de arcanjos em plena Praia do Forte, parodiando Ledo Ivo.

É ver um buquê de canções se derramando sobre o corpo desnudo da amada ausente. A música é uma fuga de nós mesmos e um mergulho nos abismos do ser. É a vertigem dos espaços, a ânsia da paisagem, desmaios nos céus rarefeitos do coração, de la musique avant toutes les choses" (da música antes de todas as coisas).

ROCK

"No princípio foi o grito. Depois o ritmo. Depois o gemido. Grito-gemido­blues, rhythm-country­wester n- rock'n roll =rock. Em torno do grito e dos sistemas sonoros acumulados e sedimentados na estrutura primitiva e na importação européia, se formou o Rock. A célula básica dos blues é o blue note. Ou notas rebeldes. Ou dirty notes, isto é, notas suias.

Os gritos acompanhados pela guitarra, gaita-de-boca, marcados na batida do pé, e depois mesclados com o trombone, corneta, clarineta, piano, órgão e sintetizador. Diálogo entre voz e guitarra é o Rock. Do grito rústico das plantações do Sul, do negro escravo ao branco marginalizado, até as grandes cidades e megalópolis de hoje, está a história do rock. Do grifo ao rock sinfônico.

Mas o rock é para se sentir e curtir, como de resto toda a música. O bom mesmo em música não é definir nem fazer história. É ver-ouvir­sentir-curtir."

MÚSICA TEM POLÍTICA, DESCOBRIU

É possível, ao contrário do que pensam Gilberto Gil e Caetano Veloso, pensar-se politicamente a partir da música?

Sim, responde Joanilo de Paula Rego. Para ele, a música, além de "amor, gozo, criação, fecundação", é também um desaguadouro de pensamentos e posições políticas.

A música se liga a ele pela mensagem política. "Fui um animal político não realizado. Minha geração procurou o equilíbrio entre Jesus e Marx, o que não pode realizar. O difícil é o equilíbrio. A música é um refúgio onde imagino meus ideais realizados, meus sonhos de humanidade perfeita". Compara "Blowin in the Wind", de Bob Dylan, com a Marselhesa, o Hino da Revolução Francesa e da França. "Blowin in the Wind" é o hino dos Diriitos Civis."

A partir daí, é mais fácil saber o pensamento político de alguém que não está ligado só à música pop:

RIO GRANDE DO NORTE: Politicamente estagnado. Não se fecundaram novas lideranças.

477: Proibiu o nascimento de lideranças, porque as lideranças nascem nas escolas, porque elas nascem novas e não velhas.

REDEMOCRATIZAÇÃO: É problema histórico, cíclico.

LIBERDADE: Meu gosto pela literatura latino­americana é o gosto pela liberdade dos jovens e dos velhos que não deixam de ser jovens, entre os quais me incluo e não arredo. A paixão pela liberdade e pelo belo é tão grande que quanto mais os anos passam mais resiste. O latino­americano em geral tem sede de infinito, idealismo e liberdade comparável ao grito negro da América que deu o goldapel, o spiritual, o rock.
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REGIME: Nem o do burguês sofisticado, de carro importado, nem o hippie das calçadas. Sinto-me marginalizado em meio à burguesia. Os colegas de faculdades não compreendem minha figura. Prefiro não ser entendido pela legião dos bem-comportados, dos quadrados e dos enquadrados.

DINARTE: Trabalhei com Dinarte e procurei trazê-lo a meu pensamento. Uma das maiores figuras do Estado. Adapto para ele o que diz Lorca sobre Inácio Sanchez: "Tardará mucho tiempo en nascer, si es que nesce, un andaluz tán bravo, tán rico de aventuras". Digo: Tardará a nascer um potiguar tão bravo, tão rico de bravura, se é que nascerá. Ele é genial porque, quase analfabeto, chegou ao que queria. Em política é uma figura antiga, no estilo patriarcal dos velhos coronéis. Escreveu-me textualmente quando visitou a Suécia: "Vi o paraíso da Terra, na Suécia: o socialismo sueco". Isso está escrito num cartão postal.
ALUISIO: Tem dados na balança mais positivos do que negativos. No governo, procurou abrir novos horizontes. O ódio esconde um amor frustrado. Aluisio é inteligentíssimo, com gamas de publicitário. Quando usou a publicidade para ele mesmo, usou como ninguém.

TARCÍSIO MAlA: O governador atual vai começar a governar no dia 15 de março de 1979. Até lá não terá construído uma obra, mas terá feito dezenas de inquéritos... Até lá, estou observando, anotando, para ao final escrever a crônica de uma idade, de uma era. Tanto poderá ser a Idade do Ouro (Renascimento) como a Idade do Couro...

POLÍTICO IDEAL: Terá as qualidades de Aluísio, as virtudes de Dinarte e os defeitos de Milton Campos. Para mim, é o símbolo e a síntese ideal do futuro líder potiguar, que vem aí... Mas nascido e batizado no ventre e no amor do povo.

POVO: Teve esgotada sua credulidade. O povo é bom, o povo do Rio Grande do Norte é sensível. As cores foi um pastoril... a transformação do povo em pasto, para pisoteio e comida dos cavaleiros andantes que vieram para um pic-nic, um safari, uma experiência de quatro anos.

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