Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
N A T A L – R N
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A diguinidade do hôme,
a mardade é qui cunsôme,
prá qui êle num atinja a meta.
É um crime monstruôso,
munto prá lá de horrorôso,
calá a vóiz de um poeta.
Tentá calá um poeta,
no verso, na sua reta,
dirmerecê seu refrão;
é privá a naturêza,
é capá sua belêza,
na mente e no coração.
É privá o coração,
de acelerá cum emoção,
de no fríi, sintí calô;
é privá o apaixonado,
de mandá o seu recado,
ô bêjo, in verso de amô.
Um poeta; num se cala;
êle tráiz in sua fala,
digo mais nuis versos meus;
o amô, de tôda manêra,
tráiz surriso e brincadêra,
no seu dom, qui vem de Deus.
Êle fala de sodade,
de dô, de felicidade,
dais coisa de sua lida;
de alegria, de tristeza,
do isprendô da naturêza,
se inspira in tudo da vida.
No riso de uma criança,
no caríin, na isperança,
de vivê dias mió;
na isperiênça do idôso,
no aconchego gostôso,
do abraço de uma avó.
No côipo de sua amada,
no orváio da madrugada,
na vorta do pescadô;
no abôio do vaquêro,
na canção do serestêro,
in Jesus, Nosso Sinhô.
Na procissão, no andô,
in mintira de caçadô,
in fofoca de capatáiz;
in putêro de istrada,
nais rapariga rodada,
nais lamparina de gáis.
No prêmo e no castigo,
na carença do mindigo,
no cantadô de viola;
num cachorro dirnutrido,
no sertanêjo sufrido,
num passaríin na gaiola.
Na iscuridão da ceguêra,
no fulorá da rosêra,
numa ôindia a se quebrá;
numa mãe ninando o fíi,
na correnteza de um ríi,
in argúem qui tá prá chegá.
No apito de um navíi,
numa noite iscura, de fríi,
ô in noite de lua chêia;
num barco à vela na praia,
ô mêrmo numa catráia,
ô in lenda de serêia.
Calá a vóiz d’um hôme dêsse;
nem cum sombríi interêsse,
nem à fôrça, num cala não.
O poeta é portadô,
é mensagêro de amô,
de áima e de coração...
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