Walner Barros Spencer
A poeira do tempo vai aos poucos cobrindo a memória indígena do Rio Grande do Norte.
Quem lembra das orgulhosas tribos que dominavam essas vastidões encandeadas de sol?
Quem lembra dos indígenas como eles gostariam de ser lembrados: senhores de si, plenos de vitalidade, valentes no domínio de seus chãos, grandiosos na peculiaridade de suas culturas?
Quem guarda seus sonhos? Quem cultua seus nomes para a posteridade? Quem zela pelos lugares que lhes foram sagrados? Quem lhes garante a eternidade através da lembrança de suas façanhas? Quem marca, em honra deles, um só lugar onde viveram?
Quem recorda as vitórias que tiveram e as glórias que conquistaram?
Quem ensina às crianças o valor de seus costumes, a dignidade de suas lutas, a virilidade de suas resistências, a fidelidade de suas alianças, o direito de suas opções?
Quem as ensina que o sangue e a cultura indígena não se esvaíram, mas estão em nós e em nossos atos, pois eles também são nossos ancestrais e avoengos, como os outros que costumamos lembrar?
Onde existe um memorial que lhes faça homenagem, um monumento que lhes assegure o crédito da parte que lhes toca na formação histórica e social desta terra?
Por que estão na história como figurantes, se foram seus agentes? Por que estão sempre como pano de fundo dos atos europeus, se foram seus altivos autores?
Somos um povo miscigenado, fruto de uma simbiose cultural e biológica, acontecida na terra dos brasis. Povo único e diferenciado. Como esquecer a parte da herança que nos faz diferenciados?
Como tirar a dignidade de uma parte de nós mesmos, seja esquecendo-a, seja negando-lhe, através de utopias deformantes, a realidade que tiveram?
Se tanto foi perdido, há muito que recuperar. Mas há que se recuperar primeiramente a realidade histórica do indígena, para que a memória dele possua a altivez que sempre demonstraram, e não a comiseração que nunca suplicaram. Há que se recuperar a dignidade de que sempre se revestiram, como seres reais, e não inculcar-lhes ingênuos valores e virtudes advindos do imaginário europeu ou das frustrações da sociedade moderna.
Escutemos com atenção, pois das planícies sertanejas, dos serrotes empedrados, das serras que balizam as solidões, ergue-se um grito de séculos: NÃO SE ESQUEÇAM DE NÓS! HONREM-NOS!
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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