quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DE AEDOS & PROFESSORES

Plínio Sanderson


Nesse 15 de outubro, dia fremular, bravo, bravarte. Saudação aos Professores, arautos da sinestesia (o que nos distingue doutros animais), nas personas do professor Panqueca e seu pai, o poeta Lourival Açucena.

Os Aedos e suas rapsódias tiveram papel essencial na construção mítica das polis gregas; à plenos pulmões, de ágora em ágora, edificaram o conceito da isonomia, da cidadania. Assim como os mestres perambuladores (evoé, peripatético Voluntè) Sofistas, formadores da oratória e da retórica. Ora, se a oralidade é a alma de todo povo, a poesia é o amálgama de quaisquer sociedades. Mirem-se nos exemplos: “Os Lusíadas” para os portugueses; “A Ilíada” e” A Odisséia” para os gregos (e troianos); a “Divina Comédia” para os italianos; do Patativa do Assaré para quem não entende patavina do frívolo sertão. A pátria é nossa língua - no Pessoa, na primeira pessoa de cada poeta.

Profº Panqueca, qual Cascudo afirmava ser quem mais sabia da história provincial. Ao contrário do Mário de Andrade, quando não se sabe de alguma coisa, aconselhava o provinciano incurável: vá procurar o Panqueca. E foi o professor que municiou Cascudo de informações para o livro de 1927, “Versos de Lourival Açucena”. Cascudo já havia escrito “Alma Patricía”, versando sobre a Auta de Souza, “a cotovia mística das rimas”, e vislumbrou a idéia de publicar um ensaio sobre a literatura do RN (na contracapa de “joio”), esse ele ficou devendo.

Açulerando, lero, lero. Joaquim Edvirges de Mello Açucena, Lourival, veio de personagem representado na peça “Desertor Francês. Cronologicamente, o poeta inaugural. As primeiras publicações estão na revista “Recreio”, nos idos de 1861, pioneiro no cenário lírico. Modinheiro, na vidinha tranqüila aos poucos, fora revelando figuras que reuniu em torno de si simpatia e admiração popular, pelas tiradas inteligentes, as modinhas e lundus que cantava. Trinta anos depois de sua morte, amigos editaram “Poliantéia”, uma reunião de textos.

“Do asno faz-se versos”. Seu reinado teve fim na província das letras com a volta de Segundo Wanderley - e sua anacrônica poesia condoreira. Disse Itajubá: “morreste e não soubeste,/ó grande veterano/essa alma não em prosas de ilusão/como quando calaste ao som do violão”.

Lourival Açucena, Segundo, Wanderley: “os costumes tornaram-se diferentes; a população sedentária fez-se mais egoísta; acabaram-se os grandes pic-nics, as noitadas de luar, os passeios coletivos à Redinha, ao Barro Vermelho, as serenatas langorosas. O poeta, sentindo-se isolado, começou a morrer. Nos últimos anos, era uma sombra de si mesmo. Trôpego, indeciso, como um sonâmbulo, quase cego, fazia pena vê-lo, não raro chasqueado pelos imbecis, atravessando algumas ruas da cidade da que fora a alma irrequieta e de que agora a alegria monta”.

Como Natal, aquele pequeno arruado no cimo de um morro, mexia com espíritos mais sensíveis? Seria a intensa luminosidade do sol? O verde do mar? O coqueiral e os mangues? Ou dunas? Teve até poeta que noivou a cidade com suas franjas flúvio-litorâneas de cristais.

Avante, Professores & Aedos,

Oh, my capitan, Lourival Panqueca!

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