segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A seca de 1877

Clementino Câmara

O ano de 1877 é tristemente assinalado pelo grande flagelo da sêca em quase todo o Nordeste. Muitos municípios foram atingidos. "Mossoró escreveu o douto desembargador Felipe Guerra, então pequena cidade com cêrca de quatro mil habitantes, foi o ponto convergente dos retirantes do interior.

"Nenhum abrigo, nenhum abarracamento. Os retirantes espalhavam-se pelos campos, pelas ruas, pelos arredores da cidade. Valados eram abertos no cemitério. Pessoas pagas recolhiam ao valado os cadáveres encontrados pelas calçadas, pelas praças, por tôda parte. Depois de cheio, as pás e enxadas cobriam de terra os restos das infelizes vítimas da desgraça.

"No relatório do presidente da Província, dr. Rodrigo Lobato, lê-se que "Mossoró foi nesta Província o teatro das mais tristes cenas de misérias. A nudez, a fome, as epidemias ceifavam grande número de vítimas e iam abrindo espaço aos recém-chegados. De janeiro de 1878 até agora (27 de outubro de 1879) foram sepultados no cemitério público daquela cidade, conforme a relação de óbitos organizada pelo respectivo e muito digno vigário, trinta e uma mil vidas, podendo, sem perigo de êrro, calcular-se em cinco mil o número dos que foram enterrados fora do cemitério, pela impossibilidade de se enterrarem os cadáveres dos que morriam em abarracamentos situados a alguma distância da cidade".

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