quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010





A CASA DO PESCADÔ
Poema Matuto
Bob Motta



A casa do pescadô,

nuis tempo de antigamente,

era quage uma tapera,

juro a vocêis, minha gente.

Piso de areia da praia,

na frente, a sua catráia,

a parte da sua lida;

na praia, ais vara infincada,

adonde era incolocada,

ais suas rêde istindida.



O balaio do pescado,

linha de mão e bichêro,

um banco munto bem feito,

de um tronco de um coquêro.

Sua amada se infeitava,

dispôi qui seu bãe, tumava,

mode isperá sua vorta;

cum o nariz já acustumado,

cum o chêro do seu amado,

iscorado ao vão da porta.



Tu recebia uis amigo,

ofertando in tua tóca,

pêxe frito no dendê,

cum café e tapióca.

Sendo tu, tão boa praça,

nunca fartava a cachaça,

cum um camarãozíin torrado;

ais vêiz, um cardo de ostra,

uma gostosa lagosta,

ô um bom pôlvo insopado.



Era verso, era poema,

serenata, canturia,

nais noite de lua cheia,

tu amanhincia o dia.

Cantando prá tua amada,

na fuguêra improvisada,

ao som do teu violão;

acumpanhando o teu canto,

teus zóio virtia o pranto,

carregado de emoção.



Sua vida amiorô,

no prano materiá,

tu viu tua casa de páia,

num bagalô, se torná.

Hoje, in busca do pescado,

teu barco é motorizado,

tem inté câmara fria;

ninguém vai mais te isperá,

pois tu fica in arto má,

pescando, cinco, seis dia.



Tua casa tem micro ôindia,

geladêra, televisão,

mode cunzinhá teu pêxe,

forno de luxo e fugão.

Teu balaio do pescado,

hoje é um frize abarrotado,

pois quando tu vai pescá;

tua muié num se quêxa;

e o bicho, quage num fêcha,

cum pêxe e fruito do má.



Hoje tu nem tem mais tempo,

de mais ela, chamegá.

Tua conta no banco é gorda,

mais num apode apruveitá.

Tu num tem mais um lazê,

pescadô véio, a você,

eu juro, sem atrapáio;

meu irmãozíin pescadô,

mêrmo no teu bangalô,

tu é iscravo do trabáio.



Aí, eu fico pensando,

e matutando, na minha,

na sodade qui tu sente,

de tua antiga casinha.

Nela, num tinha confôrto.

mais tôda noite, abissôrto,

agarrado ao teu amô;

tu tinha, a bem da verdade,

munto mais felicidade,

do qui hoje, in teu bangalô...


NATAL-RN

16.FEV.2010

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