domingo, 21 de fevereiro de 2010

Caminhos de Solidão

Alberto Maranhão




Petrópolis e Tirol nasceram assim:

A bela colina denominada o Monte tinha na ponta do norte uma casinha de porta e janela e fazia parte da propriedade Sítio do Jacob, adquirida pelo velho Jovino Barreto e herdada por seus filhos, entre os quais minha mulher.

Essa propriedade se prolongava até à de Joaquim Manuel e entre as duas mandei abrir a avenida que vai desde a atual praça Pedro Velho até o alto onde hoje é a
entrada para o Hospital, primeiramente, Jovino Barreto e, atualmente, Dr. Miguel Couto.

Depois da de Joaquim Manuel seguia-se a propriedade de Teófilo Brandão e depois, para o sul, a de Olimpio Tavares, hoje dos herdeiros de Antônio Ferreira Pinto, e por último a de João Olimpio, que já tinha então uma grande casa, onde morreu o padre João Maria.

Considerando a beleza da colina, lembrei-me criar o novo bairro e o fiz pensando na Petrópolis fluminense, dos veranistas do Rio, a cidade dos diários, e no nome de Pedro Velho, que antes de mim, já havia aconselhado ao seu amigo Joaquim Manuel Teixeira de Moura, Presidente da Intendência, como se chamava então o Prefeito, desbravando a atual Cidade Nova, abrindo ruas e avenidas em todo o planalto entre os Morros e a Cidade Alta.

Essas avenidas foram continuadas por mim, como Governador, inclusive a última que depois foi prolongada até Ponta Negra, conforme estou informado.

Já vendida minha casa de Petrópolis a Aureliano Medeiros, que a cedeu ao Estado para a fundação do Hospital, em virtude do parecer do Dr. Januârio Cico e outros que escolheram o local, construí minha nova casa no alto do terreno ondulado, entre as avenidas Hermes e Pena.

Outro aspecto oferecia o local, mas igualmente belo. Petrópolis com águas vertentes para o mar, para a Ribeira e para o planalto que se estende para o interior da península do Natal entre o Potengi e o Atlântico. E este, o planalto, no qual existem a lagoa de Manuel Felipe e a lagoa Seca, convidava o governo à criação de outro bairro para a expansão da Capital já comprimida na Ribeira e na antiga Cidade Alta.

Aliás, já algumas vivendas vinham varando a selva no prolongamento do antigo Caminho da Saúde, depois Rua Coronel Pedro Soares (hoje não sei que nome tem), a Betânia, a Pretoria, a Quinta dos Cajuais, a chácara de Cascudo (esta já construída por Herculano Ramos em bom estilo), a casa do Dr. João Chaves, a do major Miguel Seabra, José Pinto e outras anunciavam a preferência da região para residências, o que determinou também a Ferreira Chaves construir a Vila Cincinato e a Pedro Velho a Solidão, onde depois mandei instalar o Polígono de Tiro Deodoro.

A denominação de Tirol, ao bairro, foi uma simples fantasia sem justificação real.

Uma lembrança da província austríaca, qualquer coisa de reminiscência recalcada de leituras literárias, e nada mais. Era um pouco a mania do tempo. Manuel Dantas viu a Pretoria dos boers na sua casa da praça Pedro Velho, Pedro Soares a Betânia de Marta, Maria e Lázaro no casinholo que construiu no Caminho da Saúde, e por aí além.

O que não saiu da realidade bem medida de seu velho feitio, de equilíbrio, foi Antônio de Souza, que chamou de Quinta dos Cajuais a sua vivenda da praça Pedro Velho, onde realmente havia muitos e frondosos cajueiros de frutos magníficos de doçura e beleza.

A minha casa, essa, como tudo mais que por minhas mãos passam como coisa própria, já não é. Pertenceu depois de mim a Pio Barreto e da posse deste passou por arrematação para o Estado, devido à iniciativa de Pedro Soares, então Inspetor do Tesouro, que não deixou ser entregue por quantia insignificante a boa casa, com sua piscina de banho e seu poço tubular que lhe davam valor e comodidade. Sei que hoje é aí o Aero Clube.


Valem-me o prazer de ter conhecimento desse belo destino no prédio que construí no Tirol e, mais ainda, da destinação altruística de minha antiga residência de Petrópolis.


Master Plan de Polidrelli

Lúis da Câmara Cascudo


Pedro Velho batizou de Solidão a pequena casa que fez na vasta área que adquiriu junto à colina, e dentro dessa área havia um pontilhão de um metro sobre um riachinho de inverno com nome de Ponte de Tornis, outro Ercole, outro Lomas Valentinas, e por aí adiante uma loucura imaginativa. E dele também a denominação de Senegal à casa de Joaquim Manuel na parte baixa do Tirol, junto à Solidão, onde fazia no verão grande calor; e eu chamava de Covadonga o rancho que fiz em frente ao Senegal e vendi depois ao Artur Mangabeira. Era desse feitio a imaginação dos bandeirantes de Petrópotis e Tirol. Pedro Soares teve por aí também a Dinamarca se não me engano.

A rua Pedro Soares é a João Pessoa. Avenida Nilo Peçanha é a que liga a praça Pedro Velho à praçuela onde se ergue o Hospital Miguel Couto. A avenida Atlântica se chama Getúlio Vargas, cujo prolongamento desce para a praia do Meio (Morcego) e Areia Preta. Da Praia do Meio, em direção ao norte, parte uma avenida de contorno, a avenida Circular, novíssima, 1946, tarefa do Prefeito Sílvio Piza Pedroza. No Tirol morei de 1914-1932, na casa que Alberto Maranhão alude e frequentou. Vi ainda as tabuletas com os nomes dos sítios, em Tirol e Petrópolis, doces títulos de remanso que desapareceram, Pretoria, Silo, Anápolis, Solidão, Senegal, Betânia. Ainda em 1943 Alberto Maranhão foi mostrar-me sua casinha, Covadonga, perto do Solidão (Esquadrão de Cavalaria). Covadonga, reminiscência heróica de Pelaio e da resistência asturiana, é bangalô de gente rica.

Em 1904 o master-plan da Cidade Nova estava concluído, ampliando as medidas de Joaquim Manuel em fins de 1901. O relatório do secretário do Governo, H. Castriciano, datado de 14 de junho de 1904, já fixa os dois bairros quase no as­pecto dos nossos dias. Oito avenidas paralelas, com 30 metros­ de largura, comprimento entre 650 (avenida Alberto Maranhão) a 5.261 (a avenida Oitava) e quatorze ruas enxadrezando a Cidade Nova. A superfície aproximada ia a 1.648.510 metros quadrados, com sessenta quarteirões. O técnico era um agri­mensor italiano, Antonio Polidrelli, ave de arribação que es­palhou muita utilidade.


Com a estrada macadamizada de Parnamirim, 1941, ga­nhou a avenida Hermes da Fonseca projeção inacabável e, pelo símbolo do nome e do ponto, ainda fixou a maioria dos quar­téis construídos para alojamento da guarnição militar, multi­plicada pela ameaça de um assalto alemão à cidade, 1942-43.


A ligação Petrópolis-Tirol constituiu o próprio plano ur­banístico. As avenidas são comuns, nas grandes linhas horizon­tais, sem limites e divisões. O Alecrim pouco a pouco foi pro­longando as vias de acesso e articulando avenidas e ruas com a avenida Hermes da Fonseca. O Alecrim, depois da praça Pedro II (antiga Pedro Américo), desemboca no Tirol por onze avenidas diretas, desde a travessa Pedro Américo, que se con­tinua na avenida Alberto Maranhão, até o limite suburbano da cidade, a avenida Capitão-Mor Gouveia, onde finda a velha légua do Conselho, os 6.666 metros governados outrora pelo Senado da Câmara.


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