Soledade, Sol/Idade
Manoel Fernandes Volontê
Cidade minha. Cidade com suas bocas abertas para a África, recebendo brisa e mistérios do além-mar. A orla marítima invade a noite com sua infantaria de ondas. A revolução acontece nos bares, deságua nos copos de cerveja do Tirraguso.
Os poetas da nova geração, ambulantes da noite, planejam versos, reversos e antropofagia cultural nos sonhos noturnos. Kaia por cima de mim, Ive Brussel. Há um código secreto no ar, a noite esconde as cicatrizes na pulsação da cidade adormecida como um forte. Como um fraco.
Estrela cadente e decadente, a Ribeira me devolve o calor do dia, no suor dos seus operários, no ruge e batom de suas damas noturnas. Foi aqui, no bar do Olívio, onde o poeta Berilo Wanderley construiu suas ilhas marinhas, bebeu e amou entre taças de vinho e goles ardentes de cachaça. A Ribeira penetra nos meus sentidos como uma lâmina, um gume afiado.
Natal, Natal, ando vagabundo pelas ruas da tua noite e canto Ioas e curto luas, rapte-me camaleoa, a lua é um disco gravado por Caetano. Me refugio no bar do Ex-cornbatente, jogo bilhar, a chama do cigarro lateja na noite como um câncer.
O Grande Ponto é ponto de exclamações, ponto de encontro, ponto final de romance, ponto. Há poetas que assinam o ponto, outros que contam tempo de aposentadoria na calçada do Café São Luís. Há os tristes e os que bebem alegria. Bosco Lopes carnavaliza o bar do Nazi, onde jamais chegou um pôr de sol, gema de ovo num copo de conhaque.
Minha cidade Natal, nossa cidade Natal, necessidade, meus vinte e poucos anos te saúdam, meus vinte e poucos anos jogados pelo mundo, gastos na convivência com a solidão, soledade, sol e idade. Quero as cores de um novo dia. Por onde andam as cores do dia, poeta Luís Carlos Guimarães?
Concretizaram a poesia das ruas. Quero uma paisagem derramada como um soneto parnasiano, quero aquarelas de ruelas, quero um signo de F alves fincado no topo da Catedral, quero Natal. Te quero.
Lindo, Volonté! Saudade, amigo!
ResponderExcluirMartha Resende