Edgar Allan Pôla
Houve época em que a juventude crazy natalense torcia por uma chuvinha no interior.
Na Praia dos Artistas, ninguém entendia a tendência pelas chuvas.
- A galera aqui do surf gosta, dizia o Boy da Praia.
É que, com chuva, explicava, as ondas atlânticas vêm maiores.
- Chuva, pra quê? Eu quero é sol, reclamava a oposição representada pelo paulista Oswaldo, representante de revistas sulistas estabelecido na Ponta do Morcego.
Quando, em março, a chuva bendita, porém pouca, caiu, uma turma dirigiu-se para São José de Mipibu.
Cercas de arame farpado, o visual era uma beleza do lado de dentro!
Gado zebu no pasto verdinho, macho pra lá e pra cá, em tentação, e a turma de olho, pra ter certeza de que o cogumelo que buscava brotava mesmo da bosta do reprodutor.
Tinha um andarilho cigano de nome Kallon, senhor de todas as orlas potis e tabajaras, pai de prolíferas proles em todas as praias por onde andara, que gostava de viagens e que cobrou quota da meninada quando esta chegou com o produto do brejo.
Panela escaldante, os cogumelos quase chiaram quando nela foram jogados.
Primeiro copo para o cigano, Kallon não se fez de rogado: emborcou o conteúdo ainda quente para o estômago, e sentou-se na mesa do bar.
Duas horas depois, Kallon é encontrado prostrado na calçada do imaculado Colégio da Imaculada Conceição, na Cidade Alta.
Levado para as Clínicas, o médico surpreende-se com aquele corpo inerte, maltratado, mas sem sinais de coisa grave.
Balança o paciente pelos ombros, até que ele abre um olho, disposto ao enfrentamento.
- Você está bem? Pergunta-lhe o médico.
- Doutor, a matéria está um bagaço, mas o espírito está que é uma beleza! Se for medicar, medique só a matéria, doutor, porque o espírito está nas alturas...
sábado, 26 de setembro de 2009
A Viagem do cigano
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