terça-feira, 29 de março de 2011
A Missa Encantada ou Os veados brancos de Morro Branco
A Missa Encantada
ou
Os veados brancos do Morro Branco
Luís da Câmara Cascudo
João Monteiro, muitos anos empregado de meu pai, grande contador de estórias [...] narrara um encontro que teve com três veados, brancos e terríficos, descendo, silenciosamente a encosta do Morro Branco, sem nenhum temor do homem próximo que o pavor fez eriçar os cabelos e dar velocidade incrível às pernas.
Antonio Lopes, pescador, vindo de Ponta Negra, abandonou a estrada habitual pela praia e veio rumando para Capim Macio, ladeando as dunas.
Ao defrontar o Morro Branco, ouviu um canto muito bonito, como o das Santas Missões, distinguindo perfeitamente as vozes graves dos homens e agudas dos sopranos e contraltos femininos.
Era noite de lua e não muito tarde.
Antônio Lopes meteu-se pelo mato, mergulhando os pés na areia branca e fria.
O coral cada vez ficava mais perto, mas não avistava viv'alma. Andou mais de meia hora no rumo da cantaria. Ninguém. De repente, calou-se tudo e ficou apenas o vento morno sussurrando nas folhas imóveis.
Arrepiado como porco espinho, Antônio Lopes correu até a Solidão*, pondo a alma pela boca.
Nunca mais andou pelo Morro Branco depois do sol posto.
Manoel Andrade de Araújo conta estórias semelhantes, ouvida de algumas pessoas residentes nas Quintas.
Regressando de Ponta Negra perceberam que estava sendo celebrada uma missa nas proximidades do caminho. Ouviram perfeitamente as vozes do sacerdote e do acólito e o vozeiro baixo dos ouvintes.
Debalde procuraram localizar a cerimônia. Bateram os arredores, inutilmente. Silêncio, deserto, mistério.
Depois souberam que no Morro Branco há uma MISSA ENCANTADA, que muitos têm entendido e ninguém assistiu...
Os velhos moradores da Solidão, Senegal**, Lagoa Seca, contavam que a duna era povoada, em certas noites, de luzes que se moviam em todas as direções, cantos esparsos, vozes baixas e persistentes e, às vezes, sons musicais.
As lendas, visões, medos estão se dissipando (A República, "Acta Diurna",
04 de março de 1959, p. 4).
*Nome de uma das mais antigas propriedades do Tirol, pertencente a Pedro Velho. Onde hoje está a Escola Doméstica. Propriedade de tal importância, que a gente da cidade quando ía ao Tirol, dizia ir à Solidão. EA
**Propriedade de Joaquim Manuel, intendente que criou a Cidade Nova (Tirol e Petrópolis) em 1902. Onde hoje está o 16º BIM. EA
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