sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A VOZ DO POETA...


Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

2 0 0 9

A diguinidade do hôme,

a mardade é qui cunsôme,

prá qui êle num atinja a meta.

É um crime monstruôso,

munto prá lá de horrorôso,

calá a vóiz de um poeta.

Tentá calá um poeta,

no verso, na sua reta,

dirmerecê seu refrão;

é privá a naturêza,

é capá sua belêza,

na mente e no coração.

É privá o coração,

de acelerá cum emoção,

de no fríi, sintí calô;

é privá o apaixonado,

de mandá o seu recado,

ô bêjo, in verso de amô.

Um poeta; num se cala;

êle tráiz in sua fala,

digo mais nuis versos meus;

o amô, de tôda manêra,

tráiz surriso e brincadêra,

no seu dom, qui vem de Deus.

Êle fala de sodade,

de dô, de felicidade,

dais coisa de sua lida;

de alegria, de tristeza,

do isprendô da naturêza,

se inspira in tudo da vida.

No riso de uma criança,

no caríin, na isperança,

de vivê dias mió;

na isperiênça do idôso,

no aconchego gostôso,

do abraço de uma avó.

No côipo de sua amada,

no orváio da madrugada,

na vorta do pescadô;

no abôio do vaquêro,

na canção do serestêro,

in Jesus, Nosso Sinhô.

Na procissão, no andô,

in mintira de caçadô,

in fofoca de capatáiz;

in putêro de istrada,

nais rapariga rodada,

nais lamparina de gáis.

No prêmo e no castigo,

na carença do mindigo,

no cantadô de viola;

num cachorro dirnutrido,

no sertanêjo sufrido,

num passaríin na gaiola.

Na iscuridão da ceguêra,

no fulorá da rosêra,

numa ôindia a se quebrá;

numa mãe ninando o fíi,

na correnteza de um ríi,

in argúem qui tá prá chegá.

No apito de um navíi,

numa noite iscura, de fríi,

ô in noite de lua chêia;

num barco à vela na praia,

ô mêrmo numa catráia,

ô in lenda de serêia.

Calá a vóiz d’um hôme dêsse;

nem cum sombríi interêsse,

nem à fôrça, num cala não.

O poeta é portadô,

é mensagêro de amô,

de áima e de coração...

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