quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Santa Cruz da Bica

Manoel Procópio de Moura Júnior, procurador, advogado e escritor

Foto: Karl Leite

Cruz da Bica

Lamentavelmente os jovens de hoje não tiveram a alegria e o sorriso espontâneo dos "flertes" acontecidos nas festas populares da cidade do Natal, particularmente, na festa realizada no dia 03 de maio, data em que se celebra a chantação da Santa Cruz da Bica, no Baldo, próximo ao prédio da Cosern.

Na década de 1950, sendo morador do bairro da Cidade Alta, inúmeras vezes passei por aquela relíquia sem me dar conta da sua importância histórica. A Santa Cruz da Bica tem sua gênese na fundação da cidade quando duas cruzes foram cravadas para demarcar os limites da Cidade do Natal.

Uma foi colocada no extremo norte, na ladeira que leva ao bairro da Ribeira, próximo ao prédio da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Rio Grande do Norte, na Rua Junqueira Alves, que à época ficou conhecida como Rua da Cruz. Depois, em março de 1888, a rua passou a se chamar Cons. João Alfredo, permanecendo até março de 1896, quando recebeu o nome Junqueira Aires que a identifica hoje.

A outra foi plantada no extremo sul, à margem do Rio Tiçuru, que deu de beber à cidade, no início do século, por isso também chamado Rio da Bica, hoje Rio do Baldo, ficando o assim demarcados os limites da cidade Noiva do Sol, como se referia Câmara Cascudo à Cidade do Natal.

A primeira cruz desapareceu com o tempo, a segunda fincada perto do rio do Baldo, foi posteriormente transferida para uma parte mais alta ficando, com o tempo, esquecida entre as árvores de um bosque. Na segunda metade do Século XIX, os irmãos Trajano, Lopo e Claudino de Melo, foram à colina cortar madeira para construção de casa, e encontraram a cruz escondida entre as árvores.

Os três irmãos, juntamente com vários conhecidos, a retiraram do local e a levaram para o espaço em que se encontra hoje. Na data de 03 de maio, alguns fiéis iniciaram um terço ao lado da cruz, mesmo sem a presença de um padre. A partir de sta iniciativa litúrgica a celebração passou a atrair muitos devotos, tornando-se uma festa popular.

Recordo-me daquele artefato histórico instalada na confluência das ruas Gonçalves Ledo, Voluntários da Pátria e Santo Antônio, ornado com fitas coloridas. Tive a alegria de participar de vários festejos onde após as preces ali realizadas, uma banda enchia o ambiente de musicalidade. A mocidade degustava guloseimas e exercitava namoricos, enquanto no céu se escutava o pipocar dos fogos de artifícios.

Naquela época, residiam nas vizinhanças daquele patrimônio cultural as famílias de Luiz Marcelino, Sergio Santiago com suas filhas Zélia e Lélia, Luiz Tavares, Dona Urcy e seus filhos, Odúlio, Maneco, "Cabo Zé", Carlinhos e Luciene (esta casada com João Medeiros Neto), todos sempre presentes nas festividades da Santa Cruz da Bica já que os moradores daquele quarteirão e adjacências participavam efetivamente das manifestações ali rea lizadas.

Algumas autoridades municipais tentaram preservar aquele monumento, no entanto, as intempéries do tempo acabaram por destruir aquela relíquia histórica, existindo nos dias de hoje, na pequena praça ali erigida, um cruzeiro que guarda alguns fragmentos da peça original.

Esta situação fez com que as manifestações populares daquele logradouro fossem gradativamente ficando no esquecimento, no entanto, aquele relicário, nunca deixará de ter a sua importância para a Cidade do Natal, porque em qualquer tempo, por mais incúria que exista, a Santa Cruz da Bica é um pedaço da história da Cidade do Natal.

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