Cajueiros e javaris solitários
Aroldo Martins
Zuza desasna beócios e os lorpas instigantes são castigados por um decurião de maus bofes, caso promovam azáfama e balbúrdia nas salas de aula.
Gothardo Neto, filho do professor, instrui-se no castiço vernáculo, onde a pureza e a forma lingüística são a busca maior da perfeição poética. O soneto em alexandrinos o atrai. As belas morenas o inspiram. Um amor proibido o consome.
Sorumbático, sai à noite, com seu sari indiano, entre as veredas dos aningais que ladeiam o Tissuru, e para além da Cruz da Bica descamba para a Salgadeira, lugar de tugúrios, mansarda, botecos pobres, onde, entre tragos, sacia sua desdita. É também Zé Fidélis, o poeta das sombras.
Viram-no para os lados da nossa última tatajubeira – divisa entre Ribeira e Rocas – de fraque azul desbotado, botas rotas, chapéu fora de moda, chapinhando em poças de lama, uma corda de caranguejos entre os dedos. É Ferreira Itajubá, Azinho.
Vem dos pastoris, das lapinhas, dos fandangos. E seu violão é coberto com folhas-de-fladres. Feito de luz, o poeta é a festa maior da cidade. São suas as alvadias dunas. São seus os cajueiros e javaris solitários.
Nessa noite, Azinho está insone e com sede. Quem sabe, nas barracas da Feira do Salgado – futura estação ferroviária – não haverá um caritó aceso e um bom copo de aguardente?
- Não tenho nenhuma bebida – disse o bodegueiro.
- Bote água na garrafa, fica o gosto – redargüiu Itajubá.
- Não dá mais, poeta. Gothardo Neto passou aqui e já bebeu a lavagem...
Aroldo Martins
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