quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jacó Rabi

Luís da Câmara Cascudo

Jacó Rabe, Rabi, era um judeu alemão do condado de Waldeck, vindo para o Brasil com o conde João Maurício de Nassau em 1637.

Valente e astuto, cruel e sem escrúpulo, saqueador e mandante de assassinatos, é a figura mais sinistra e repelente do domínio holandês no nordeste brasileiro, denegrida e acusada por todos os historiadores de seu tempo. Não há exemplo de uma defesa nem de uma atenuante ao Rabi. Todos são promotores nesse processo de história e o homem é um réu de crimes incontáveis.

O nome seria confuso entre Rave ou Rabe e Rabi. Era o homem inteligente e observador e a etnografia lhe deve páginas preciosas de informação sobre os indígenas de Janduí, no meio dos quais vivia, tendo um prestígio de rei.

O Conselho Político designou Jacó Rabe para ser o guia, o mentor, o representante político junto aos Janduís, cariris que eram aliados aos holandeses. Rave desempenhou-se admiravelmente deste papel. Em vez de elevar os cariris ao seu nível mental, tomou para si a mentalidade do Janduí, matando, assaltando, saqueando, com a naturalidade de um ato fisiológico.

Vivia em companhia de indígenas, tendo vida igual a dos Cariris pagãos. Estes adoravam-no como a um ser superior. Bestial e cupido para todos, Rabi era todo bondade e tolerância para os Janduís. Esses eram todos doidos por ele.

Com seus Janduís, rebentada a revolução de junho de 1645, dirigida por João Fernandes Vieira para expulsar os holandeses, Rabi vôou em defesa dos interesses dos intrusos.

A forma mais fácil que lhe 'passou pela cabeça' foi conter os colonos pelo pavor. Vencer pelo medo. E sacudiu seus indígenas como a uma matilha de lobos sobre a população desarmada e confiante nas leis da Holanda.

Dirigiu pessoalmente o massacre de Cunhaú na manhã de domingo, 16 de julho de 1645.

Comandara o ataque à casa de Lostão Navarro assim como a luta em Uruassú, terminada a 10 de outubro. Não tomou parte no morticínio de Uruassú, 3 de outubro. Cabe a responsabilidade ao diretor Joan van Bulléstraten, vindo do Recife dar a ordem para que matassem os refugiados e prisioneiros.

O comandante do Castelo de Keulen, nome dado ao Forte dos Reis Magos, era o tenente coronel Jorris Gartsmann, casado com brasileira e dono, de parceria com o conselheiro Baltazar Wyntges, do engenho Cunhaú. No massacre, queimaram o engenho e mataram o sogro do coronel, talvez gerente da propriedade. Gartsmann ficara furioso, mastigando planos.

Na noite de 4 de abril de 1647, Gartsmann jantava, com amigos, na casa de Dirck Mulder van Mel, no Potengí (Natal), quando chegou Rabi e conversaram afavelmente.

Depois das onze horas, saíram ambos. Ouviram dois tiros e várias pessoas correram, encontrando o chefe branco dos Janduís já morto, com duas balas no tórax e golpes de espada pelo corpo. E saqueado. Enterraram-no ali mesmo. Deram aos dois escravos, como recompensa do serviço, as calças e as meias de Rabi. Estavam tão velhas que os escravos recusaram.

Está publicado por Alfredo Carvalho o inquérito procedido quando do assassinato de Rabi. Gartsmann nada sofreu, senão transferência.

Os Janduís ficaram furiosos e se afastaram dos holandeses. Resta, aproveitado por Jorge Marcgrave na sua "História Natural", o estudo de Rabi sobre os costumes dos Janduís.

Nada mais.

Natal, 01 de março de 1946.
Livro das Velhas Figuras

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