Convite
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
FlipAut Onírica!
Plínio Sanderson
A nova indústria de eventos, pós-autos, Cinemas, Feiras/Bienais de Livros, Gastronômicos, os Festivais Literários que se instaura: Flip, Paraty/RJ; Fliporto, P. de Galinhas/PE; de Passo Fundo/RS e nesse caso Flipipa/RN, desemboca na Teoria dos Ídolos de Francis Bacon. Os “ídolos da tribo”, que generalizam com bases em casos favoráveis (vide-bula). Ou os “ídolos do teatro”, na invenção de factóides, com a conivência de autoridades que se rendem ao tráfego de influências e/ou as famigeradas leis de incentivo.
Transformar Pipa em contexto de evento cultural para sair do trinômio sol, praia e desbunde (cosmopolita) forjado no viés de aproximação da população local com os intelectuais e escritores de projeção local e (inter) nacional, incentivando a formação de novos leitores (sic!). É argumento insustentável, ledo engano – Zeus se travestiu de cisne para afogar o ganso com a linda Leda.
Chega de tietismo, celebrar celebridades. Antes, a obra que o escritor produz, do que o escritor que a mídia enaltece. Na Flip/2010, Crumb disse: “Não sei o que estou fazendo aqui. O que interessa é meu trabalho”. Ou, como afirmou no Flipipa/2010 João Ubaldo: “Não entendo nada de literatura e não gosto de falar de literatura”.
Mesmice deslavada. Denotar figuras abastadas da literatura não legitima a aura de encontro literário. A repetição de personas e temáticas é lugar comum. Quatorze a zero: concordo com o Fábio (revista 14) que ousou dizer “repetitivo e chato”. E ainda: “obsessão por um passado que já aconteceu”; e mais: “viver imerso em ilusões nostálgicas”.
Estou farto, cansado da estética do cangaço. Gosto do Mia Couto, principalmente de sua criação lexical acronímica, junção de dois vocábulos existentes para a formação de uma nova palavra - apesar de termos cá, o original nonada Guimarães Rosa. Não preciso ouvir dele que há várias Áfricas e vários Brasis, e uma “África brasileira”. Curto o Noll, mas não sou noiado. Pra dormir, conto Carneiro(s)... Carito, ainda continuo sem saber que danado é mascafon? Uma de Cascudo. Quando não se sabia de alguma coisa, parodiando o Mário de Andrade, aconselhava o provinciano incurável: vá procurar o prof. Panqueca!
De leve que é na contramão. Não sejamos apenas cenário, nem só figurantes! Exercitar o "Genius Loci/Espírito do Lugar" e quem nele habita. Não queremos público pudico; necessitamos construir um público que não se resigne na coadjuvância lhes atribuída historicamente - que acha lindo o que não é espelho.
Eis que mesmo na surdina aviltante da imprensa, eclodiu o FlipAut, Out (FORA). Nem contra, nem a favor, mas, avesso ao reverso. Uma aventura prometéica, que rouba o fogo que cega/encandeia na fogueira das veleidades do Olimpo, para distribuí-lo aos singelos mortais. Coletivamente, colaborativamente... Compartilhadamente... Inclusivamente... Conclamando todos ao protagonismo, a fazer (p)Arte da História!
Chega de tietismo, celebrar celebridades. Antes, a obra que o escritor produz, do que o escritor que a mídia enaltece. Na Flip/2010, Crumb disse: “Não sei o que estou fazendo aqui. O que interessa é meu trabalho”. Ou, como afirmou no Flipipa/2010 João Ubaldo: “Não entendo nada de literatura e não gosto de falar de literatura”.
Mesmice deslavada. Denotar figuras abastadas da literatura não legitima a aura de encontro literário. A repetição de personas e temáticas é lugar comum. Quatorze a zero: concordo com o Fábio (revista 14) que ousou dizer “repetitivo e chato”. E ainda: “obsessão por um passado que já aconteceu”; e mais: “viver imerso em ilusões nostálgicas”.
Estou farto, cansado da estética do cangaço. Gosto do Mia Couto, principalmente de sua criação lexical acronímica, junção de dois vocábulos existentes para a formação de uma nova palavra - apesar de termos cá, o original nonada Guimarães Rosa. Não preciso ouvir dele que há várias Áfricas e vários Brasis, e uma “África brasileira”. Curto o Noll, mas não sou noiado. Pra dormir, conto Carneiro(s)... Carito, ainda continuo sem saber que danado é mascafon? Uma de Cascudo. Quando não se sabia de alguma coisa, parodiando o Mário de Andrade, aconselhava o provinciano incurável: vá procurar o prof. Panqueca!
De leve que é na contramão. Não sejamos apenas cenário, nem só figurantes! Exercitar o "Genius Loci/Espírito do Lugar" e quem nele habita. Não queremos público pudico; necessitamos construir um público que não se resigne na coadjuvância lhes atribuída historicamente - que acha lindo o que não é espelho.
Eis que mesmo na surdina aviltante da imprensa, eclodiu o FlipAut, Out (FORA). Nem contra, nem a favor, mas, avesso ao reverso. Uma aventura prometéica, que rouba o fogo que cega/encandeia na fogueira das veleidades do Olimpo, para distribuí-lo aos singelos mortais. Coletivamente, colaborativamente... Compartilhadamente... Inclusivamente... Conclamando todos ao protagonismo, a fazer (p)Arte da História!
FlipAut! 2010, Festival Literário Alternativo da Pipa foi circuito paralelo de interações, descentralizando acontecências sem conflitos com ninguém, corroborando para popularizar a literatura e a arte em todas as nuances. Vislumbrou permear barreiras sociais e espaciais, exercitando práticas lúcidas e lúdicas na praia, no book shop, na escola, na esquina da rua, no boteco... Sem fins lucrativos, nenhum dos escritores, jornalistas, poetas, produtores, colaboradores, oficineiros, etc. ganharam uma pataca sequer pelo esforço, além do prazer de propiciar/vivenciar junto à grande e heterogênea comunidade local/global uma instigante experiência onírica de pertencimento cultural.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
A chuva que acordou o dia
Eduardo Alexandre
A chuva que acordou o dia transportou-me para tempos distantes, anos 60, no Tirol da minha infância.
O cheiro da mata chegando, o pé do morro lavado de suas guabirobas suculentas e deliciosas; o medo da cobra-de-veado, a suaçubóia que, se não era venenosa como as corais perigosas que habitavam debaixo das folhas caídas dos cajueiros, “matava de arrocho, enrolando-se nas pessoas até sufocá-las”.
Quanto medo das cobras gigantes dos morros do Tirol!
O desejo de degustar a guabiroba do “Pé-do-morro”, porém, era maior.
Maior que o medo da suaçubóia — termo aprendido depois, nas salas de aula do Marista; maior que os sustos causados pela mimética cobra-cipó; maior que medo da “aleijante cipoada do rabo do camaleão”.
Meninos, juntávamos nossos cachorros e, enganando o balaço dos fuzis que vinha do Dezesseis Erre-i treinando pontaria, aventurávamo-nos pelas trilhas que nos levariam para Barreira d’Água com seu encantador solo esculpido pela natureza das chuvas, os nossos cânions, depois levados pela ganância da construção civil. Solo a guardar água limpa e “saborosa”, bebida com a ajuda das mãos na sofreguidão do cansaço de subidas e descidas de dunas escaldantes.
O riozinho a formar-se ao pé das barreiras e a “encher” o mar Atlântico com suas poucas águas era uma fantasia real. “Um quê a mais” no meio daquela selva.
Os cajus do Morro do Careca, por trás do quartel; os sagüis a nos indicar o cambuizeiro doce; os pequenos bem-te-vis dando surras em gaviões em fugas desesperadas; a raposa fugindo ao inaudível som emitido; as brigas de morte das cobras com os teiuaçus, “salvos pelo pé de pinhão”, tudo isso era íntimo da infância do Tirol.
Nas cercanias, as vacas pastavam e as borboletas, amarelo-pálidas como chananas, chegavam também teimosas com o calor das manhãs.
A pista, imensa nesga preta de asfalto deixada pelos americanos quando da guerra, era limite de estripulias infantis. Do lado de lá, a Praça Augusto Leite, pobre, em meio a um barreiro onde os campos de pelada surgiam destocando moitas teimosas a atrair saúvas “que acabariam com a nação se não acabássemos com elas”.
Do lado de cá, o reino de Dudé, filho de Seu Fausto, dono da vacaria — na garupa do jumento aparecido ou no lombo do cavalo do cercado, dava o tom da reação contra a “tropa” que ousava cruzar a pista, vinda da Augusto Leite.
A pelada dizia quem era melhor. Mas os socos e arranca-rabos por vezes aconteciam, decidindo, de vez, todas as pendengas.
Debaixo do juazeiro limpo, sem espinhos, defronte de sua casa, Dudé comandava a “tropa de cá” equilibrando-se pela mão esquerda sob a perna chocha, encolhida pela paralisia infantil, para não despencar. Coisa de “quem havia chupado manga depois do leite” ou “tomado banho depois da feijoada”.
Do morro, descia Carioca, com seu balaio de mangas e cajus, pitombas, homem misterioso, de pouca conversa, senhor de todos os segredos do Morro do Roncador, a confirmar os tremores de terra que, diziam, deles o Brasil estava livre, pois sim! Morro do Roncador! Por que haveria de roncar um morro por trás das poucas casas do Tirol? Acho que nem Carioca sabia, ele “que morava há duzentos anos” num sítio entre os morros que nos levavam à Barreira Roxa, praia de pescarias de bons xaréus, pampos, barbudinhos, fartos antes que o barulho da cidade e sua sujeira os afugentassem para longe.
Dali, vi Natal deixar para trás a corrente. Esta que era limite da cidade e que, depois, trouxe a fábrica da Guararapes de Seu Nevaldo, o homem que iniciara com duas máquinas de costura o seu império e que viera para escrever a história do desenvolvimento da cidade, sucesso hoje desaguado no mesmo local, chamado “Me Dei Mal” pela população jovem que não viveu esses tempos.
Tirol que não assistiu às contendas de Luís Tavares contra os gringos insolentes da guerra, mas que lhe deu guarida nos seus últimos dias de tranqüilidade e bons exemplos. Tirol de Berilo Wanderley e dos bondes que traziam frescas suas crônicas para a Hemetério Fernandes, rua que me trouxe as primeiras luzes pelas mãos de Dona Adelaide, a parteira da cidade.
Tirol do rela-bucho da Lagoa Manoel Felipe; do Aéro do apaixonado getulista Boquinha; do América de Maria Creuza e dos grandes carnavais; Tirol da AABB aberta não só a bancários; Tirol que se deixou seduzir pelo comércio.
Tirol de quantos nomes?
Tirol de tanta gente, de tanta paisagem humana e boa que não cabe enumerar numa crônica amanhecida de uma nuvem que só trouxe borboletas amarelo-pálidas como as teimosas chananas e as guabirobas de saudade, doces como o amarelo dos cambuís de suas dunas hoje encobertas pelo concreto do progresso que as invade, levando ternas virgindades de antigamente.
Jacó Rabi
Luís da Câmara Cascudo
Jacó Rabe, Rabi, era um judeu alemão do condado de Waldeck, vindo para o Brasil com o conde João Maurício de Nassau em 1637.
Valente e astuto, cruel e sem escrúpulo, saqueador e mandante de assassinatos, é a figura mais sinistra e repelente do domínio holandês no nordeste brasileiro, denegrida e acusada por todos os historiadores de seu tempo. Não há exemplo de uma defesa nem de uma atenuante ao Rabi. Todos são promotores nesse processo de história e o homem é um réu de crimes incontáveis.
O nome seria confuso entre Rave ou Rabe e Rabi. Era o homem inteligente e observador e a etnografia lhe deve páginas preciosas de informação sobre os indígenas de Janduí, no meio dos quais vivia, tendo um prestígio de rei.
O Conselho Político designou Jacó Rabe para ser o guia, o mentor, o representante político junto aos Janduís, cariris que eram aliados aos holandeses. Rave desempenhou-se admiravelmente deste papel. Em vez de elevar os cariris ao seu nível mental, tomou para si a mentalidade do Janduí, matando, assaltando, saqueando, com a naturalidade de um ato fisiológico.
Vivia em companhia de indígenas, tendo vida igual a dos Cariris pagãos. Estes adoravam-no como a um ser superior. Bestial e cupido para todos, Rabi era todo bondade e tolerância para os Janduís. Esses eram todos doidos por ele.
Com seus Janduís, rebentada a revolução de junho de 1645, dirigida por João Fernandes Vieira para expulsar os holandeses, Rabi vôou em defesa dos interesses dos intrusos.
A forma mais fácil que lhe 'passou pela cabeça' foi conter os colonos pelo pavor. Vencer pelo medo. E sacudiu seus indígenas como a uma matilha de lobos sobre a população desarmada e confiante nas leis da Holanda.
Dirigiu pessoalmente o massacre de Cunhaú na manhã de domingo, 16 de julho de 1645.
Comandara o ataque à casa de Lostão Navarro assim como a luta em Uruassú, terminada a 10 de outubro. Não tomou parte no morticínio de Uruassú, 3 de outubro. Cabe a responsabilidade ao diretor Joan van Bulléstraten, vindo do Recife dar a ordem para que matassem os refugiados e prisioneiros.
O comandante do Castelo de Keulen, nome dado ao Forte dos Reis Magos, era o tenente coronel Jorris Gartsmann, casado com brasileira e dono, de parceria com o conselheiro Baltazar Wyntges, do engenho Cunhaú. No massacre, queimaram o engenho e mataram o sogro do coronel, talvez gerente da propriedade. Gartsmann ficara furioso, mastigando planos.
Na noite de 4 de abril de 1647, Gartsmann jantava, com amigos, na casa de Dirck Mulder van Mel, no Potengí (Natal), quando chegou Rabi e conversaram afavelmente.
Depois das onze horas, saíram ambos. Ouviram dois tiros e várias pessoas correram, encontrando o chefe branco dos Janduís já morto, com duas balas no tórax e golpes de espada pelo corpo. E saqueado. Enterraram-no ali mesmo. Deram aos dois escravos, como recompensa do serviço, as calças e as meias de Rabi. Estavam tão velhas que os escravos recusaram.
Está publicado por Alfredo Carvalho o inquérito procedido quando do assassinato de Rabi. Gartsmann nada sofreu, senão transferência.
Os Janduís ficaram furiosos e se afastaram dos holandeses. Resta, aproveitado por Jorge Marcgrave na sua "História Natural", o estudo de Rabi sobre os costumes dos Janduís.
Nada mais.
Natal, 01 de março de 1946.
Livro das Velhas Figuras
Jacó Rabe, Rabi, era um judeu alemão do condado de Waldeck, vindo para o Brasil com o conde João Maurício de Nassau em 1637.
Valente e astuto, cruel e sem escrúpulo, saqueador e mandante de assassinatos, é a figura mais sinistra e repelente do domínio holandês no nordeste brasileiro, denegrida e acusada por todos os historiadores de seu tempo. Não há exemplo de uma defesa nem de uma atenuante ao Rabi. Todos são promotores nesse processo de história e o homem é um réu de crimes incontáveis.
O nome seria confuso entre Rave ou Rabe e Rabi. Era o homem inteligente e observador e a etnografia lhe deve páginas preciosas de informação sobre os indígenas de Janduí, no meio dos quais vivia, tendo um prestígio de rei.
O Conselho Político designou Jacó Rabe para ser o guia, o mentor, o representante político junto aos Janduís, cariris que eram aliados aos holandeses. Rave desempenhou-se admiravelmente deste papel. Em vez de elevar os cariris ao seu nível mental, tomou para si a mentalidade do Janduí, matando, assaltando, saqueando, com a naturalidade de um ato fisiológico.
Vivia em companhia de indígenas, tendo vida igual a dos Cariris pagãos. Estes adoravam-no como a um ser superior. Bestial e cupido para todos, Rabi era todo bondade e tolerância para os Janduís. Esses eram todos doidos por ele.
Com seus Janduís, rebentada a revolução de junho de 1645, dirigida por João Fernandes Vieira para expulsar os holandeses, Rabi vôou em defesa dos interesses dos intrusos.
A forma mais fácil que lhe 'passou pela cabeça' foi conter os colonos pelo pavor. Vencer pelo medo. E sacudiu seus indígenas como a uma matilha de lobos sobre a população desarmada e confiante nas leis da Holanda.
Dirigiu pessoalmente o massacre de Cunhaú na manhã de domingo, 16 de julho de 1645.
Comandara o ataque à casa de Lostão Navarro assim como a luta em Uruassú, terminada a 10 de outubro. Não tomou parte no morticínio de Uruassú, 3 de outubro. Cabe a responsabilidade ao diretor Joan van Bulléstraten, vindo do Recife dar a ordem para que matassem os refugiados e prisioneiros.
O comandante do Castelo de Keulen, nome dado ao Forte dos Reis Magos, era o tenente coronel Jorris Gartsmann, casado com brasileira e dono, de parceria com o conselheiro Baltazar Wyntges, do engenho Cunhaú. No massacre, queimaram o engenho e mataram o sogro do coronel, talvez gerente da propriedade. Gartsmann ficara furioso, mastigando planos.
Na noite de 4 de abril de 1647, Gartsmann jantava, com amigos, na casa de Dirck Mulder van Mel, no Potengí (Natal), quando chegou Rabi e conversaram afavelmente.
Depois das onze horas, saíram ambos. Ouviram dois tiros e várias pessoas correram, encontrando o chefe branco dos Janduís já morto, com duas balas no tórax e golpes de espada pelo corpo. E saqueado. Enterraram-no ali mesmo. Deram aos dois escravos, como recompensa do serviço, as calças e as meias de Rabi. Estavam tão velhas que os escravos recusaram.
Está publicado por Alfredo Carvalho o inquérito procedido quando do assassinato de Rabi. Gartsmann nada sofreu, senão transferência.
Os Janduís ficaram furiosos e se afastaram dos holandeses. Resta, aproveitado por Jorge Marcgrave na sua "História Natural", o estudo de Rabi sobre os costumes dos Janduís.
Nada mais.
Natal, 01 de março de 1946.
Livro das Velhas Figuras
Era rio
Eduardo Alexandre
Natalenses
Fotos: Hugo Macedo
Sociedade Araruna de Danças Antigas e Semidesaparecidas
Comemoração de cinqüentenário
O vento, o homem, a duna, o Forte, o rio,
O índio, o batavo e o português.
As gamboas, o Monte, o mar bravio,
O Refoles e o campo-santo inglês.
A Rua Grande e o antigo casario,
Tomou o mês de Cristo por teu mês...
As paredes te contam a história:
Nas telas do passado luta e glória!
Caminho de beber, Rua do Meio,
O porto da Redinha, o Outeiro,
A Matriz erigida no teu seio,
A cacimba, a lagoa, o alvissareiro,
O corsário francês que aqui veio,
Os flamengos canhões, o índio frecheiro...
De tudo impregnado vão vibrando,
No olfato, tato e vista vão gritando...
Antoniel Campos
Lavagem
Cajueiros e javaris solitários
Aroldo Martins
Zuza desasna beócios e os lorpas instigantes são castigados por um decurião de maus bofes, caso promovam azáfama e balbúrdia nas salas de aula.
Gothardo Neto, filho do professor, instrui-se no castiço vernáculo, onde a pureza e a forma lingüística são a busca maior da perfeição poética. O soneto em alexandrinos o atrai. As belas morenas o inspiram. Um amor proibido o consome.
Sorumbático, sai à noite, com seu sari indiano, entre as veredas dos aningais que ladeiam o Tissuru, e para além da Cruz da Bica descamba para a Salgadeira, lugar de tugúrios, mansarda, botecos pobres, onde, entre tragos, sacia sua desdita. É também Zé Fidélis, o poeta das sombras.
Viram-no para os lados da nossa última tatajubeira – divisa entre Ribeira e Rocas – de fraque azul desbotado, botas rotas, chapéu fora de moda, chapinhando em poças de lama, uma corda de caranguejos entre os dedos. É Ferreira Itajubá, Azinho.
Vem dos pastoris, das lapinhas, dos fandangos. E seu violão é coberto com folhas-de-fladres. Feito de luz, o poeta é a festa maior da cidade. São suas as alvadias dunas. São seus os cajueiros e javaris solitários.
Nessa noite, Azinho está insone e com sede. Quem sabe, nas barracas da Feira do Salgado – futura estação ferroviária – não haverá um caritó aceso e um bom copo de aguardente?
- Não tenho nenhuma bebida – disse o bodegueiro.
- Bote água na garrafa, fica o gosto – redargüiu Itajubá.
- Não dá mais, poeta. Gothardo Neto passou aqui e já bebeu a lavagem...
Aroldo Martins
sábado, 6 de novembro de 2010
Endereço novo
Av 7, 1093 - Tirol. Plano Jeremias.
Eu. de endereço novo.
artigo argumentativo a respeito da "construção" errônea, digamos, da expressão 'Plano Palumbo'. E nele há toda uma contextualização da história de Natal.
Sérgio Vilar
Vale lembrar que o dito logradouro histórico, cultural e etílico é a maior concentração de doido por metro quadrado de Natal.
Jeremiaaaaaaaaaaaaaaaaassssssssss.
Franklin Serrão
Palumbo? Por Justiça, Plano Jeremias desmistifica essa história de chamar os bairros de Petrópolis e Tirol como 'Plano Palumbo'. Tudo isso começou com uma fantasia de nossa Abelhinha que foi na onda de um zangão dado a lendas e fábulas.
Woden Madruga
Vindo da esquerda da lagoa de Manoel Felipe, o riacho Tissuru ganhava águas sobradas desta e seguia rumo à cruz do Baldo, Bica, dando de beber à povoação que dormitava à direita, em claros habitada até o topo da duna, Cidade Alta, e seguia descendo, até proximidades da feira da Tatajubeira, na campina da Ribeira, adjacências do porto novo, esplanada que começava a trazer desenvolvimento para a pequena capital.
Eduardo Alexandre
Eduardo Alexandre
Desmistificou o tal Palumbo. Viva Jeremias!
Alex Gurgel
Alex Gurgel
ao invés de palumbianos, somos mesmo é jeremianos.
Chico Lira
Que tal um Projeto de Lei para mudar o nome de Tirol para Solidão?
Leonardo Sodré
passou pelo crivo do WM, instalou a polêmica e ainda tirou onda.
Antoniel Campos
passou pelo crivo do WM, instalou a polêmica e ainda tirou onda.
Antoniel Campos
http://bit.ly/bB6zXg
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Pra mudar nome de revista
Jornal de WM
por Woden Madruga
Palumbo
Peguei os “feriados” para ler o último número da revista Palumbo. Traz uma entrevista com o jornalista Jomar Morais, que está em qualquer seleção que se fizer da melhor imprensa brasileira nestes últimos trintanos, hoje aposentado, vivendo em Natal, e dedicando tempo integral às suas pesquisas e reflexões espirituais.
Outro texto que me chamou a atenção é o artigo de Eduardo Alexandre Garcia, “Palumbo? Por Justiça, Plano Jeremias”, que desmistifica essa história de chamar os bairros de Petrópolis e Tirol como “Plano Palumbo”. Tudo isso começou com uma fantasia de nossa Abelinha que foi na onda de um zangão dado a lendas e fábulas.
A verdade, como se sabe, é que Palumbo não botou um meio-fio nem no Tirol e nem em Petrópolis, que já existiam há muito tempo antes dele aportar em Natal, final dos anos vinte, convidado pelo prefeito Omar O’Grady. Na verdade, na verdade, dos desenhos de Palumbo só ficou mesmo o alargamento da Duque de Caxias, na velha Ribeira. Mas isso é outra história.
A imprensa natalense, muitas vezes por desinformação e a falta de uma leitura mais qualificada, reinventa a história da Cidade, embaralha fatos e pessoas, cria uma “Praça Cívica”, uma “Praça das Flores”, um “Largo do Teatro”, uma “Praia do Centro” (Imagine uma praia no Grande Ponto, na Cidade Alta!), muda os nomes das ruas e avenidas tradicionais, mistura os bairros, cria “prolongamentos” de avenidas, faz paródias e coisas que tais. Plano Palumbo é uma delas.
Gostei do artigo de Eduardo Alexandre. Pena que ele não tenha citado o mestre Luis da Câmara Cascudo Em sua História da Cidade do Natal, Cascudo conta tim-tim-por-tim-tim como surgiram os bairros de Petrópolis e Tirol nos descampados da Cidade Nova. Transcreve, inclusive, uma carta do governador Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, onde tudo começou, e onde tudo esta contado.
Também teria citado o livro do arquiteto e urbanista João Mauricio de Souza, Evolução Urbana de Natal em 400 anos.
Eu, se fosse Afonso Laurentino, mudaria o nome da revista.
O artigo
Palumbo? Por justiça, Plano Jeremias
No início dos 1900's, com 13 mil habitantes, Natal era cidade tão pequena que os que a visitavam gracejavam: "Natal? Não há tal!"
Vindo da esquerda da lagoa de Manoel Felipe, o riacho Tissuru ganhava águas sobradas desta e seguia rumo à cruz do Baldo, Bica, dando de beber à povoação que dormitava à direita, em claros habitada até o topo da duna, Cidade Alta, e seguia descendo, até proximidades da feira da Tatajubeira, na campina da Ribeira, adjacências do porto novo, esplanada que começava a trazer desenvolvimento para a pequena capital.
Porto, terminal ferroviário da Great Western, sede de governo na rua do Commercio, depois Chile, a Ribeira dava cartas do progresso lento que a cidade vivia.
Quase esquecidos, estavam os tempos de grande movimentação comercial do porto de Guarapes, que quase leva para Carnaubinha, margem esquerda do Jundiaí, a honra de sediar o governo provincial nos idos 1860's, quando Fabrício Pedrosa ali inaugurou feira, construiu porto, palacete para sua residência, escola, armazéns, abrigo para escravos, comandou a economia do Rio Grande do Norte e mudou o nome de Coité para Macaíba.
Vem de Guarapes e da gente que viria de Fabrício Pedrosa, a insatisfação de Natal ser, neste início dos 1900's, tão pequena, limite leste da Cidade do Alto fincado no sítio Cucuí, à direita da Ulisses Caldas, e palacete inacabado do juiz federal, doutor Porfírio Santos, depois vendido e reformado em 1906 para sediar o Colégio Imaculada Conceição, à esquerda de quem vinha do Rosário para a tétrica e temida, mas divertida zona meretrícia do Vem-quem-quer, rua Mossoró, caminho de vivendas, sítios, quintas e granjas antes dos morros. Casebres, choupanas, morro do Estrondo a espalhar medos e lendas em trilhas a ele levadas.
Depois de ganhar porto e terminal ferroviário, a Ribeira queria aterro para ver-se livre das águas do braço de rio que avançava até beiradas das dunas que levavam ao sítio do Jacob, tapera erguida no alto do Belo Monte, visão do Atlântico descortinando-se ribas abaixo.
Era naquela área, descendo o Belo Monte e se expandindo até as proximidades da lagoa de Manoel Felipe, que o primeiro governador republicano do RN, Pedro Velho, sonhava dar à cidade o seu terceiro bairro: a Cidade Nova.
Prefeitura chamava-se Intendência. Tinha presidente. Pedro Velho era filho de Amaro Barreto, o homem que seguiu os caminhos do cemitério do Alecrim, fincou direção de estrada no Alto da Bandeira, levando-a até o entreposto de Guarapes, onde estava fixado o grande comércio.
Em 1901, era intendente de Natal o presidente Joaquim Manoel Teixeira de Moura, chamado Quincas Moura. Foi ele o responsável por fazer realidade o sonho de Pedro Velho, ao criar, através da Resolução 55, de 30 de dezembro, o sonhado terceiro bairro de Natal.
Por quatrocentos mil réis, Quincas Moura contratou Jeremias Pinheiro da Câmara e este demarcou as avenidas e ruas que viriam a compor o novo bairro.
Terra barata, sem valor comercial, as casinholas que interrompiam a abertura enxadrezada dessas avenidas e ruas projetadas foram compradas ou desapropriadas pela Intendência a preço vil, o que constrangeu cerca de 300 moradores e elevou vozes oposicionistas, que deram ao bairro projetado o nome de Cidade das Lágrimas: oito avenidas de 30 metros de largura, paralelas, que receberiam nomes de presidentes da República; seis ruas transversais, também paralelas, que receberiam nomes de rios norte-riograndenses e; duas praças, a Pedro Velho, que ia da Deodoro à Prudente de Morais, e a Municipal, depois Pio X, onde hoje se encontra a Catedral Metropolitana.
Como até então só haviam governado o Brasil seis presidentes, as duas últimas avenidas projetadas se chamaram provisoriamente avenida 7 e avenida 8, respectivamente, hoje, avenidas Afonso Pena e Hermes da Fonseca.
O Master Plan da Cidade Nova, como foi chamado, foi concluído em 1904 pelos engenheiro Antônio Gondim e agrimensor italiano Antônio Polidrelli, contratados em julho de 1903, contando 60 quarteirões. Casas com terrenos de 30 metros de frente, separadas umas das outras por, pelo menos, 5 metros de distância.
A maior das avenidas era a avenida 8. Tinha 5.261 metros de extensão. Ia até onde hoje está o Midway Mall, cruzando a avenida 15, que vinha do Alecrim, Bernardo Vieira depois e limite da cidade, posto fiscal, "corrente".
A Cidade Nova foi dividida em dois bairros: Petrópolis, em homenagem à cidade fluminense e; Tirol, província austríaca, cantão suiço.
Petrópolis desenvolveu-se em torno do Monte Belo, Belmonte, Monte Petrópolis depois, trilhos descendo bonde aos pescadores de Areia Preta já em 1913; subindo Caminhos da Saúde, tapera do Jacob tansformada em residência do governador Alberto Maranhão, edificação que em 1909 se transforma em Hospital Juvino Barreto, sogro do construtor do Teatro Carlos Gomes, alagado da Ribeira aterrado, porém ainda não vencido.
Ao pé do Belo Monte, homenagem ao presidente da Intendência, a rua Joaquim Manoel levava à Ribeira e, no outro extremo, encontrava a avenida 8, em curva que levava ao sul, onde, cansado de deitar vistas sobre o mar, Joaquim Manoel ergue Senegal, hoje sede do Distrito Naval, vivenda defronte à Solidão, de Pedro Velho, que seria Escola Doméstica de Natal. Ainda insatisfeito, o intendente Quincas Moura edifica nova residência onde viria a ser o 16 BIM. Defronte, mais um empreendimento de Alberto Maranhão, casa com piscina e poço tubular, depois transformada em Aéro Clube.
É esta a área que hoje querem chamar Plano Palumbo. Um erro.
Giacomo Palumbo, arquiteto italiano, só aparece na história de Natal em 1929.
Contratado pelo prefeito Omar O'Grady, ele elabora o Plano Geral de Sistematização de Natal, que "articula o zoneamento da cidade (definição e distribuição das funções administrativas, comerciais, Industriais, etc.), com o embelezamento (agenciamento de ruas e avenidas, arborização, passeios, parques, etc.) com a infra-estrutura (sistema viário, iluminação, etc.) e com medidas ambientais e de higiene, como a criação de um grande parque central, e a localização adequada de cemitérios e matadouros."
Ao que querem chamar Plano Palumbo a área mais nobre de Tirol e Petrópolis, observados critérios técnicos, por justiça, deveriam chamar Plano Jeremias, o dos primeiros contornos, ou, quando muito, Plano Polidrelli, que a partir de 1903 sequenciou os traçados dos novos bairros de Natal e, ao que parece, também enxadrezou planejamento para avenidas e ruas do Alecrim, dando-lhes numeração como fizera à avenida 8, hoje a importantíssima avenida Hermes da Fonseca, a que, na II Guerra, recebeu asfalto para transportar soldados, mantimentos, máquinas, combustíveis e armas entre Natal e o campo de pouso aéreo aliado instalado no Rio Grande do Norte, o Parnamirim Field, caminhos do sul, hoje rodovia de entrada da cidade, braço de Br.
Por critérios políticos, Plano Governador Pedro Velho, Plano Governador Alberto Maranhão ou Plano Intendente Joaquim Manoel.
Plano Palumbo, jamais.
Assinar:
Postagens (Atom)