domingo, 27 de setembro de 2009

Shimmy



PARA MÁRIO DE ANDRADE


O SOL LHE BATE DE CHAPA

D’UM BESOURO O BRILHO ESCAPA

BRANCO, NEGRO, OURO E MEL.

ROLA, RECUA E SE ATIRA

VOLTA, SE ENCOLHE E SE ESTIRA

O DORSO DA CASCAVEL.


O CORPO INTEIRO PALPITA

A PELE SE ARRUGA E AGITA,

A LÍNGUA FINA DARDEIA

E TREME E ESTORCE E AVANÇA

E ESTACA, E DEMORA E CANSA

ONDULA, VAGA, VOLTEIA.


SILVA, RONCA, BUFA E SOA

O MARACÁ QUE REBOA

E TUDO DANÇA NO PÓ.

ALONGA A BELEZA TOSCA

DA PELE QUE VAI E ENROSCA

E FICA TREMENDO SÓ...


O DORSO ACURVA, SE ENROLA

COMO O FIO DE UMA MOLA

INCHA, SOPRA, ENGORDA, CRESCE,

SOBE, PARA, VOLTA E CORRE

O BRILHO NO LOMBO ESCORRE

VIBRA, ESTALA, ESPICHA, DESCE...


VAI PARANDO O MOVIMENTO

O MARACÁ CEDE AO VENTO

E FICA SOANDO MAL.

DE PRONTO SACODE O LAÇO

COMO UMA MOLA DE AÇO

SUBINDO NUMA ESPIRAL.


INDA VIBRA, MEXE E BOLE

O CORPO ANEGRADO E MOLE

SUSTÉM O COMPASSO ENFIM.

CEDE A CADÊNCIA DA DANÇA

PARA O CHOCALHO, DESCANSA

E TUDO CESSA POR FIM.


LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

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