PARA MÁRIO DE ANDRADE
O SOL LHE BATE DE CHAPA
D’UM BESOURO O BRILHO ESCAPA
BRANCO, NEGRO, OURO E MEL.
ROLA, RECUA E SE ATIRA
VOLTA, SE ENCOLHE E SE ESTIRA
O DORSO DA CASCAVEL.
O CORPO INTEIRO PALPITA
A PELE SE ARRUGA E AGITA,
A LÍNGUA FINA DARDEIA
E TREME E ESTORCE E AVANÇA
E ESTACA, E DEMORA E CANSA
ONDULA, VAGA, VOLTEIA.
SILVA, RONCA, BUFA E SOA
O MARACÁ QUE REBOA
E TUDO DANÇA NO PÓ.
ALONGA A BELEZA TOSCA
DA PELE QUE VAI E ENROSCA
E FICA TREMENDO SÓ...
O DORSO ACURVA, SE ENROLA
COMO O FIO DE UMA MOLA
INCHA, SOPRA, ENGORDA, CRESCE,
SOBE, PARA, VOLTA E CORRE
O BRILHO NO LOMBO ESCORRE
VIBRA, ESTALA, ESPICHA, DESCE...
VAI PARANDO O MOVIMENTO
O MARACÁ CEDE AO VENTO
E FICA SOANDO MAL.
DE PRONTO SACODE O LAÇO
COMO UMA MOLA DE AÇO
SUBINDO NUMA ESPIRAL.
INDA VIBRA, MEXE E BOLE
O CORPO ANEGRADO E MOLE
SUSTÉM O COMPASSO ENFIM.
CEDE A CADÊNCIA DA DANÇA
PARA O CHOCALHO, DESCANSA
E TUDO CESSA POR FIM.
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO
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