João Gothardo Dantas Emerenciano
Um dos costumes mais interessantes de uma parte da população natalense das últimas décadas do século passado e primeiros anos do presente foi a instituição do Cantão, local onde se reuniam grupos de intelectuais, funcionários públicos graduados, políticos e comerciantes.
Diariamente, um grupo de amigos, sem número definido, se encontravam na calçada da residência de um deles – sempre o mesmo – e colocadas as cadeiras estava reunido o conclave.
Havia vários Cantões na cidade, cada um com seu feitio próprio, localizados nos dois bairro existentes: Ribeira e Cidade Alta.
Na Cidade Alta, eram bastante concorridos os seguintes Cantões: da Gameleira, o mais antigo e temido pela crítica sempre ferina, situado à Praça da Alegria, atual praça Padre João Maria. O núcleo do Cantão, a casa de Joaquim Guilherme de Souza Caldas, inspetor do Tesouro, abrigava o “Grupo da Gameleira”, facção do Partido Conservador, liderado pelo padre João Manoel de Carvalho, três vezes deputado provincial e duas vezes deputado geral (1873-76 e 1886-89). Faziam parte, ainda, do “Grupo da Gameleira”, alusão à maior e mais frondosa árvore da praça, José Bonifácio da Câmara, Francisco C. Seabra de Melo e Manoel Porfírio de Oliveira Santos, figuras exponenciais da política potiguar.
Na antiga Rua Nova, atual avenida Rio Branco, em residência de Urbano Hermílio, funcionário da Fazenda, existia outro Cantão com a característica de excluir a política de sua discussão, cuidando apenas de arte e literatura. Os freqüentadores habituais eram: Alberto Maranhão, Henrique Castriciano, Manoel Dantas, os irmãos Celestino e Segundo Wanderley, Pinto de Abreu e Pedro Soares.
Outro Cantão bastante freqüentado era o da residência do bacharel e magistrado federal, Celestino Wanderley, na avenida Junqueira Ayres, de predominância familiar, pois era freqüentado por senhoras e senhoritas. Despontavam neste grupo, João Nepomuceno Seabra de Melo, Juvenal Lamartine e Manoel Coelho, entre outros.
Na mesma avenida onde morava Celestino Wanderley, existia outro Cantão, o da residência do coronel Gaspar Monteiro, irmão do jornalista e político Tobias Monteiro, onde se reunia um grupo pouco numeroso, porém selecionado, destacando-se Westremundo Coelho, Umbelino Melo e Nascimento Castro. Discutia-se predominantemente a luta política.
Não muito longe dali, na Rua da Palha, atual Vigário Bartolomeu, existia o Cantão da Potiguarânia, nome de um bilhar de Ezequiel Wanderley. Era o Cantão mais descontraído da cidade, freqüentado na sua maioria por jovens, que trocavam idéias sobre arte, literatura, jornalismo, tudo, enfim, que no momento atraísse a atenção da cidade. Freqüentavam religiosamente este Cantão: Uldarico Cavalcante, Antônio Marinho, Gothardo Neto, Sebastião Fernandes, Ferreira Itajubá, Pedro Melo, Aurélio Pinheiro, Cícero Moura, Celestino e Segundo Wanderley, José Pinto, Francisco Palma, entre outros.
Na Ribeira, existiam dois Cantões: o da farmácia do comendador José Gervásio de Amorim Garcia, localizada na antiga Rua do Commercio, atual rua Chile, e outro nas proximidades do Hotel Internacional, o mais importante da cidade, situado à avenida Tavares de Lyra, esquina com a Rua do Commercio. Ambos eram eminentemente políticos e tinham entre os seus freqüentadores as figuras de Augusto Leopoldo, Antônio de Amorim Garcia, Francisco Amintas da Costa Barros, membros do “Grupo da Botica”, alusão à farmácia de Zé Gervásio, que sediava as reuniões da facção do Partido Conservador, liderada pelo Dr. Tarquínio Bráulio de Souza Amaranto, três vezes deputado geral, que fazia oposição ao “Grupo da Gameleira” desde a morte do chefe do Partido Conservador, Cel. Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara, ocorrida no ano de 1884, quando o Partido Conservador no Rio Grande do Norte ficou dividido em duas facções: a do “Grupo das Gameleiras” e a do “Grupo da Botica”.
In O Potiguar, ano I, Nº 5, abril/maio de 1998.
sábado, 26 de setembro de 2009
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