Beco da Lama
Velho “Beco da Lama”, teus poetas,
Embriagam-se no álcool da ilusão;
Nas vielas do grande coração,
Os boêmios são almas inquietas.
Os teus “loucos” se vestem de profetas
E discursam falando para o mundo;
Vez enquanto aparece um moribundo
Tropeçando nos sonhos de outrora
E perdido no ocaso, busca a aurora,
Entre as mesas, pessoas e cadeiras,
Escutando pilhérias, brincadeiras,
De alguém lhe dizendo vá embora.
Muitas “damas” da noite são constantes,
Nos botecos de luz incandescente;
Velhos portos que atraca muita gente
Que nos copos procuram seus amantes.
Nas calçadas discursos confrontantes
De boêmios, poetas e escritores,
Cada qual defendendo com rigores
Posições, pensamentos e “verdades”
Uns humildes, já outros, vaidades,
Defendendo com afinco os seus valores
Um artista que chega embriagado
Pelo álcool, oferta a sua arte,
É uma cena do “Beco” que faz parte
Pelo um mundo que é sempre ofertado.
Uma “dama”, de jeito delicado,
Tendo o nome da flor do mundo antigo,
Cada mesa “ela” encontra um abrigo
Distribuiu entre todos os seus beijos:
São as cenas dos líricos gracejos
Encenadas no “Beco”, sem perigo.
Velho “Beco” que abriga os solitários
A penumbra se mostra companheira,
A cachaça é amiga alvissareira
Que oferta alguns mundos ideários.
Teus boêmios são sempre solidários
Companheiros notívagos dos sonhos;
Tu és um mundo de alegres e tristonhos
Como as cenas de um filme lenitivo;
Tem boêmio que por ti é cativo
Só te vê, com os olhos, bem risonhos.
Velho “Beco” dos corações partidos;
Passarela de amores conquistados;
Lar de sonhos vivendo nos sobrados
E de corpos que são sempre aquecidos.
Tu ofertas mil mundos coloridos
E as trevas no mar da existência;
Tu és pra muitos, luz da consciência,
A vanguarda do povo de Natal...
Um lugar onde a vida é natural
Expressada na luz da irreverência.
Gilmar Leite
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