Antes de 1862, quando a torre nasceu, estava a mastro fincado no pátio do Quartel Militar, que não existe mais. Feita a Torre da Matriz, chantaram o pau dos sinais no topo, e perto ficou o alvissareiro, João Irineu de Vasconcelos, ganhando 240$000 por ano.
Passava o dia olhando a cidade, morros, praias, rio e mar. Todo o horizonte profissional. Devia erguer uma bandeira sempre que avistasse navio. Do lado do norte do mastro, se fosse barco vindo dessa zona. Do sul, se de lá despontasse. Os anos passaram. Ainda o alcancei, e o desaparecimento do telégrafo ótico será a volta a 1930, morrendo as bandeiras do Código Internacional de Sinais, subindo e descendo, no eirado da torre quadrada. Todas as alegrias de embarcar ou chegar, soldados, companhias de teatro, todos os temas, assuntos e teses para a cidade eram vistos em primeiro lugar pelos olhos humildes do Alvissareiro. Raros lhe sabiam o nome e estado de espírito. Se sofria, amava, adoecia ou morria, a cidade jamais perguntou. Essencial é que as bandeiras subissem nos lados do mastro, espalhando as notícias tranqüilizadoras ou amargas, mas indispensáveis. Milagres de júbilo e de lágrimas, as bandeiras, azul e encarnada, semearam no ar. O Alvissareiro era o mágico indiferente às fantasmagorias que inundavam a cidade. Do cimo da Torre da História, o Alvissareiro anuncia a passagem na linha do horizonte, dos velhos e passados navios que estão no fundo do mar. Sonhos, amores, lutas, ambições, delírios, mortes, tudo quanto segue na alma do homem, sempre com ele viveu, como a sombra ao corpo, muda e teimosa testemunha de sua passagem, reaparece e vive a vida emprestada pela recordação. Gente do Sul e do Norte. As bandeiras sobem, contando, de dia e de noite, como os navios passaram, chegaram e partiram para sempre. Ninguém pergunte se faltou um navio, ou se um fantasma faltou à chamada dessa imensa procissão de mortos. Apenas, solidário com a grande alma coletiva da cidade, o Alvissareiro olha o mar e conta a história dele aos que não o podem ver, no tempo...sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
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