quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Nove anos da Banda Antigos Carnavais

(*) Gutenberg Costa


Tudo começou com um sonho de um menino pobre que pelas ruas ainda sem calçamento do bairro do Alecrim, saia alegremente no bloco de papangus, organizado pela ativista cultural dona Marlene Teixeira, nas manhãs e tardes de carnaval. Esta mulher guerreira cortava seus lençóis e toalhas de mesa, para vestir dezenas de meninos, entre eles, os seus próprios filhos. Era um saudoso tempo governado por Paulo Maux e seu rival Severino Galvão. O gordo Paulo abraçando os foliões e o magro Severino os borrifando perfume, de uma bomba, marca detefon. A banda Antigos Carnavais, espelhada nas gloriosas Banda de Ipanema, do Rio de Janeiro e BandaGália de Natal, surgiu de um apelo nosso ao então secretário municipal Armando José, em 2002, que de pronto, deu total apoio e 20 músicos para sairmos pelos becos estreitos da artéria chamada ‘da Lama’ e adjacências da Cidade Alta. Região dos primeiros carnavais natalense nas animadas Ruas Grande e da Palha. Um pequeno estandarte doado por Augusto Maranhão e carregado alegremente por Fernando Towar. Em sua primeira organização, além de mim, esteve os bravos Marcelo Sena e Múcio Araújo. Os três cavaleiros da alegria!

Neste ano fomos até filmado pelo cineasta Carlos Tourinho, que aportara por aqui há pouco tempo. Depois a coisa foi crescendo a cada ano, com históricas brigas com os sucessores de Armandinho, Franklin Delano e Marcelo China. Intrigas do bem para se fazer um carnaval de popular de rua, aberto sem cobrança alguma do folião que estava desanimado com o som invasor dos baianos, deixando o frevo pernambucano, que sempre foi a nossa identidade musical, esta já centenária e aprovada pelo nosso povo momesco. A cada ano a nossa Banda foi homenageando personalidades carnavalescas, organizando exposições fotográficas e promovendo o seu Baile da Saudade, na Rua Tavares de Lira, local de nossa chegada no Bairro da Ribeira. Depois tivemos a chegada dos aguerridos carnavalescos para engrandecimento da nossa organização de Gêir Albuquerque, Márcia Moreno e Adrovando Claro, que continuam até hoje na luta desenfreada para mostrar que é possível trazer o povo de volta ao carnaval de Rua em Natal.

Quando completamos cinco anos, com a ajuda do supermercado Veneza do grupo Rede Mais, colocamos um bolo gigante de cinco metros na Rua Princesa Isabel, para o povo que lá nos acompanhava. Tudo filmado pela câmera dos jovens cineastas Diogo Moreno e Adrovando Claro. Nossa boneca gigante prestou a maior homenagem em vida à personagem popular mais conhecida de todos de Natal, conhecida como auto se intitulara ‘Embaixatriz Severina’ ou ‘Administradora Geral do Estado’. Natal era outra no tempo da lúcida prima da rainha Elizabeth, dando ordens e moralizando as nossas contas públicas. Era mais temida sozinha, do que todo Tribunal de Contas...

De nossas boas brigas trouxemos a eleição aberta do Rei Momo e Rainha, antes em clube fechado, para o nosso Baile da Saudade, na Ribeira. Brigamos com o poderoso Trio elétrico e o Axé baiano e até fizemos o grande potiguar compositor e cantor Dosinho, emocionar-se ao ouvir a nossa música carro chefe da Banda ‘Não se Faça de Doido Não’. Atendendo nossas sugestões então secretário Dácio Galvão, o tratou de merecidamente o homenagear. Historicamente devemos muito a Dosinho, que é mais prestigiado em Pernambuco do que na sua própria terra.

Incontáveis foliões se colocaram a nos apoiar com sua presença, apoio e alegria desde 2002 até os dias atuais, mas um fato que me levou as lágrimas foi quando o amigo Rochinha em 2005, vendo a Banda começar a tocar um frevo, correu em direção a um camelô e comprou rapidamente uma colorida sombrinha, par lhe acompanhar em sua esfuziante caminhada. Atitude rochiana, que precisaria de Berilo Wanderley e Newton Navarro, juntos para a transcreverem para os séculos seguintes. Como esta, vemos a cada ano os muitos gestos dos acompanhantes anônimos, que ainda acreditam que o carnaval de rua não morreu depois daquele trágico acidente de 1984. Tudo isto é sinal que o nosso bom frevo de rua atrai anualmente mais gente de todas as idades, sem violência, cordão excludente e pagamento de camisetas. O povo tem o devido direito de livremente divertiren-se como naqueles velhos tempos de Djalma Maranhão, Tota Zerôncio, Zé Areia, Melé, Lucarino, Bum-Bum e tantos outros quixotescos do nosso carnaval de rua natalense.

Como o objetivo da Banda Antigos Carnavais é primordialmente fazer carnaval de Rua em Natal e paralelamente mostrar o seu lado histórico e cultural, este ano estaremos realizando a primeira ‘Mostra de Cinema Carnaval’, aberta ao povo, exibindo documentários carnavalescos em um telão, todas as noites, de 25 a 28 de janeiro.

E ainda este ano a nossa Banda sairá na sexta feira, do dia 29 de janeiro próximo, do lado da antiga Catedral, na Cidade Alta, com a Banda composta por cinqüenta músicos, pelas principais ruas históricas do centro até a velha Ribeira boemia de tantos carnavais.

Sabemos que a maior homenagem que se pode fazer a estes dignos momescos citados, é sair de casa, fantasiado ou não e cair ao som do frevo das bandas carnavalescas, que já tradicionalmente afronta o todo poderoso ritmo eletrizante fora de época.

(*) Fundador da Banda Antigos Carnavais e autor da obra inédita: ‘História do Carnaval da Cidade do Natal’.


Antigos Carnavais - Carnaval do Povo é na rua!

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