quinta-feira, 5 de maio de 2011

Talvez vocês comam a grama do day after.

DE PICARETAGENS E MARRETADAS 

POR ALEX MEDEIROS



Tudo por apenas R$ 12,00. É o preço que o leitor paga para entender com detalhes todos os esquemas de fraudes e negociatas que são feitos em torno de uma Copa do Mundo, principalmente em países pobres, com governantes e políticos promíscuos.

Doze reais é o custo de capa da revista Piauí, cuja última edição, nº 44, traz uma das mais bem elaboradas reportagens já publicadas no Brasil sobre os negócios da FIFA e, por conseguinte, da CBF e seus patrocinadores/cúmplices. Um primor de jornalismo.

Assinada pela jornalista Daniela Pinheiro, aquela mesma que foi bastante elogiada por gregos e troianos quando entrevistou José Dirceu, a matéria é de uma clareza cristalina, um texto didático e extremamente pontual sobre cada passo do evento esportivo.

Daniela revela os bastidores mercadológicos que envolvem poderosas marcas e empresas de jornalismo que garantem o controle emocional das multidões ignorantes que pensam estar contribuindo com o futuro alimentando os lucros privados.

Cita estudos e livros de pesquisadores que comprovaram com números e dados científicos a farsa do tal “legado da Copa” tão decantado em profusão por agentes públicos a serviço dos interesses privados de políticos e empreiteiros.

Aquilo que eu sempre repito aqui, sobre a ausência do famigerado legado no México, único país do mundo a realizar duas copas em apenas 16 anos, fica bem claro no competente texto da repórter, que tem quase duas décadas de experiência.

O envolvimento oportunista dos políticos sul-africanos na defesa da Copa 2010 lembra uma certa aldeia brasileira que em poucas coisas se diferencia da África. A ilusão de 150 mil empregos sazonais que sumirão após o jogo final da disputa mundial.

Todos os livros e pesquisas destacados pela Piauí comprovam com dados seguros o grande engodo que é o legado da Copa, apenas uma retórica que compra a consciência de cidadãos de baixo intelecto, mas que agem como parceiros voluntários da CBF.

É importante que os leitores entendam o que está por trás de uma Copa, de como o dinheiro público se transforma num festival de derrame que recheia cofres de terceiros. Não precisa ficar contra o evento – como EU – mas é preciso defender o erário.

A leitura da revista Piauí (apenas R$ 12,00) vem a baila num momento bem apropriado, quando alguns apaixonados por futebol se articulam para organizar uma passeata ao estádio Machadão, em Natal, de marretas na mão para simbolizar sua demolição.

A iniciativa, diga-se, não é dos picaretas que estão na órbita da operação de aprovar o projeto da Arena das Dunas, preocupados apenas com a gorda verba do BNDES a fundo perdido. Mas a idéia da passeata não poderia ter ocorrido em melhor hora.

Vamos batizá-la de PASSEATA DOS MARRETEIROS, mesmo que aqueles que engrossem o cordão dos iludidos não sejam os verdadeiros espertalhões que querem a Copa do Mundo apenas pela enorme facilidade de ganhar suas bolas no oficial.

Leiam a Piauí, rapazes! Assessores ávidos por mostrar serviço; puxa-sacos doidos para locupletarem-se; jornalistas eufóricos com os gomos da bola; publicitários pseudo-civilistas; comerciantes sedentos na ignorância; empreiteiros sedentos na esperteza.

Vão à luta MARRETEIROS, convoquem os PICARETAS para vossa passeata, arranquem o naco de cimento que lhes cabe na concretude das negociatas daqueles que lucrarão sozinhos com a Copa 14. Talvez vocês comam a grama do day after.

EM TEMPO: este colunista tem uma opinião distinta das duas bandas em conflito. Não quero a Copa 14 em Natal, prefiro ir assistir aos jogos no Rio. Mas sou a favor que o Machadão dê lugar a um pequeno estádio, tipo o Frasqueirão, para comportar o tamanho real do futebol papa-jerimum.

E leiam a Piauí, não esqueçam.

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