quinta-feira, 5 de maio de 2011

COISA DO REINADO DA DANAÇÃO

Tenho pra mim, Senhor Redator, que isso é coisa do reinado da danação.

MARCHA EM DEFESA DO MACHADÃO
DIGA SIM A ESSA IDÉIA

O ESTÁDIO DELIRANTE
Vicente Serejo

CENA URBANA - JORNAL DE HOJE
30.01.2009

O delírio, Senhor Redator, pode ser um estado ou um estádio. No nosso caso, aqui nesta vila que foi Aldeia Velha de Felipe Camarão e Capitania Hereditária do mui lido senhor João de Barro, o intelectual amigo do rei, é um estádio.

Surto ou estratégia, não importa. Basta saber-se que o plano de construí-lo parte da demolição de um conjunto arquitetônico - Machadão e Machadinho - para não citar os prédios do Centro Administrativo, tudo para uns incertos três jogos da Copa do Mundo.

Os que defendem a idéia, mesmo tocados pela boa fé, como é o caso do secretário Fernando Fernandes, parecem esquecidos - ou, tanto pior, desprezam - que a arquitetura, no mundo antigo ou moderno, faz parte dos traços culturais de um povo, daí o risco da demolição. Mais ainda se refletem um tempo, um estilo, um sentimento, uma marca da criação humana. É bem o caso do Machadão. E olhe, Senhor Redator, este cronista não tem espírito esportivo nem compleição física para exercê-lo.

Ora, se vivemos uma calamidade pública na saúde no Estado visto e decretado; um sistema estadual de ensino público degradado, com os piores índices de ineficiência; e uma segurança carente de investimento, como o governo se apresenta à opinião pública para anunciar a construção do que chamou de Arena das Dunas? Colosso encomendado aos gringos e a ser vendido em plena crise econômica mundial? Tenho pra mim, Senhor Redator, que isso é coisa do reinado da danação.

Das duas, uma: se perdeu a fronteira do bom senso; ou, tanto pior, é por consciência que se ensaia esse jogo como um cenário maroto para alimentar no povo a ilusão de que assistirá a dois ou três jogos da Copa. É aquele artifício: se não acontecer, paciência. Foi feito o possível, a pantomima dos acordes na orquestração do povo. Com a Ponte Newton Navarro também foi assim. O governo acabou pagando a conta porque ninguém veio assumi-la para explorar seus lucros. E não havia crise.

Na Arena das Dunas, mesmo no imaginário do que faz o governo nesse campo de atuação, vão rosnar, isto sim, as feras do remorso nascido da irresponsabilidade de pretender construir não só um colosso de concreto armado, mas uma pequena cidade administrativa. Perdoem os governantes, se é que há capacidade de perdoar nas suas almas poderosas, mas é uma forma de luxúria perversa esse simulacro, esse gesto de anunciar uma obra que nasce da destruição de um patrimônio público.

É de espantar que alguns agentes executivos da Prefeitura apóiem a iniciativa na mesma hora em que discute um dito Plano de Fluição do Trânsito para Natal.

Como, se querem plantar na nesga estreita entre duas grandes avenidas de penetração e escoamento - Cordeiro de Farias / BR 101 e a Prudente de Morais/Jorge O'Grady, que cobrem toda extensão urbana da cidade? Querem produzir o estrangulamento com uma convulsão total? É o estádio de delírio.

Que Deus tenha piedade de nós.

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