domingo, 22 de novembro de 2009

LAPA MARAVILHOSA

Eduardo Alexandre

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Parecia que o dia estava para premonições.
Mal o dia clareou antes das 4:30h e já uma foto trazia ao Aldeia Poti suas primeiras luzes a emoldurar os morros do Tirol. Foto de Leo Sodré, candidatíssimo à presidência da Aphoto, com o apoio condicional de Lorena: só e somente só, se Leo continuar a escrever suas crônicas bem humoradas para publicação no grupo virtual de discussão da Aphoto, a Associação Potiguar de Fotógrafos.
Tomo um banho e me animo para uma ida rápida à casa da Redinha Nova, com o único objetivo de aguar as plantas, uma semana que não ia lá.
Ao chegar à Redinha Nova, passo pela rua da frente e percebo o mato seco a indicar os perigos de uma queimada por ali. Dirijo o carro para os fundos da casa e logo vejo que o fogo tomara conta de parte do capinzal abundante.
Paro para abrir a torneira de entrada de água para a casa, quando, de repente, chega a nova e falante vizinha comunicando que o fogo se alastrara e entrara para a minha casa, queimando parte do meu jardim.
- Mas o Velho chamou outros vizinhos e eles apagaram o fogo. Quero me desculpar com você e me comprometer a repor as plantinhas que porventura tenham morrido...
Velho é como ela chama o marido, ainda nem cinquentão, jornalista militante da imprensa pernambucana, morando ali e viajando com assiduidade a Recife.
Volto para a rua da frente e coloco o carro no terraço da casa, livrando o grama para o banho que eu queria proporcionar.
Faço a inspeção na parte de trás da casa e vejo que o fogo não fora tão danoso assim, pelo contrário, até me livrara de um mato alto que já até incomodava a quem quisesse andar por ali.
Terminada a jornada das plantas, retorno para o Tirol com a intenção de fazer compras para o abastecimento do dia-a-dia da casa.
Mal abro o portão e me deparo com mamãe, já a postos:
- Vamos ao Nordestão?
Já no supemercado, absorto, analisando uma gôndola de produtos de limpeza, alguém, por trás, me toca o ombro.
Era Marcílio, figura que eu jamais imaginaria encontrar num supermercado.
- Estou viajando nesta quarta e ia telefonar para você.
Combinamos de nos encontrar para um rolé depois das compras e vermos o que poderia ser feito naquela tarde de sábado de Pratodomundo, mas com um compromisso já firmado com Klebinho, irmão de Alexandro Gurgel, que, na quinta passada, no Bardalo's, prometera nos brindar com cinco quilos de camarões do mar e dos grandes, mais duas grades de Skol estupidamente geladas, encontro marcado para as 13:00h daquele sábado no estúdio fotográfico de Hugo Macedo.
No rolé com Marcílio, passo pela Hemetério Fernandes e um grupo em torno de uma mesa de terraço faz coro, em uníssono:
- Senador, venha tomar uma!
São os amigos de infância, adolescência, doidos para o incentivo ao mau caminho da política, intento antigo, mal sucedido, do qual já estou curado.
Marcílio só queria mesmo colocar a conversa em dia e não quis ficar na casa de Márcio Caboré. Nem queria ir comigo aos camarões de Klebinho, que nem notícia deu.
Deixo Marcílio em sua casa e volto para a minha, tomo um banho, almoço e vou à visita prometida à galera da casa de Caboré.
- Ter de analisar governo Lula e desempenho do PT vai ser, para mim, doloroso nessa conversa cheia de lulistas, pensei.
Mas ninguém me sugeriu a isso, nem esse papo rolou.
Rolou mesmo foi que um circunstante, sem camisa, tomando uma cachacinha, fazia de sua barriga um tobogã para a mão direita, que descia e subia, alisando a bichinha.
Incomodado com aquele ritual de paciência, Negão, o marido de Marissônia, irmã de Caboré, procurou ser certeiro no deboche:
- É a maior pança já vista no Tirol... Em todos os tempos!
- Maior que a minha é a sua! Bradou o insultado. Tire a camisa e vamos medir! Desafiou.
E fizeram pose para os presentes: de frente, de perfil, bunda X bunda...
Aquele concurso inusitado ficou na minha cabeça durante o período que ainda permaneci ali, até que decidi ir ao Beco.
Chego em Nazaré, cartazes do Gardênia's Day II expostos pelas paredes, ajeito uma mesa, peço água mineral e uma cerveja e fico a esperar alguém para uma conversa.
Enquanto matutava, veio uma idéia: por que não, no dia da festa, não promover um concurso como aquele, havido na casa de Caboré, entre os dois barrigudões?
Mal vou encaixando as idéias, quem chega? Alex, o da lapa, com sua elegantésima e fininha Cleo.
- É hoje! Penso.
Mesa se forma, chega Volontê, já com cara de Frei Damião.
- Alguma novidade para o Gardênia's Day, Eduardo? Pergunta.
- A cantora revelação do carnaval baiano deste 2009 vem dar uma palhinha na festa: Priscila Freire. Comuniquei.
- Mais nada? Perguntou Volontê.
Ficamos os quatro, Alex, Cleo, Volontê e eu olhando um para a cara do outro, sem respostas, até que retomei a palavra:
- Estou pensando em realizar, no dia, o concurso: "Lapa Maravilhosa".
Alex logo imaginou-se vencedor do mesmo, lembrando as belas fotos dos arcos da Lapa que fizera em recente visita ao Rio de Janeiro.
- Não é isso que você está pensando, não, Alex. Comuniquei: é lapa de bucho!
Nem termino a frase, Chagas Loutenço dobra a esquina da Voluntários da Pátria, o Ceagaele, Chl, pai da observação famosa em cima de foto daquele mesmo Alex, ostentando acachapante pança:
- Ô lapa!
Chl chega acompanhado de Péricles, prefeito de Santa Cruz do Inharém, e logo a estória do concurso é narrada, não antes da chegada (sem notícias e sem camarões) de Hugo Macedo e do casal Serrão, que já havia me telefonado umas quatro vezes perguntando pela camaroada.
- O Lapa Maravilhosa vai ocorrer no dia da festa de Gardênia e o vencedor, que vai ganhar um barrigão postiço como prêmio, vai ser o lanterninha do concurso, em homenagem ao ABdC, para aprender a gastar mais dinheiro com cerveja e menos com cachaça, que não dá tanta proeminência à barriga, como a cerveja dá.
- E já me declaro candidato ao prêmio! Comunicou Alex, levantando-se da cadeira e dando uns tapinha na não querida lapa, da qual tenta (em vão) se safar caminhando todas as manhãs no Bosque dos Namorados.
- E temos mais dois potenciais candidatos, anunciou Volontê: Plínio Sanderson e Hugo Macedo. Vai ser páreo duro, vaticinou.
Chega o casal Zé Carlos/Cristiane, o poeta Gilmar Leite, outros, conversas vão se misturando até que o concurso da lapa de bucho, o já famoso prêmio KLB (Ki lapa de bucho), vai sendo esquecido.
Um telefone toca, uns cochichos são trocados ouvido a ouvido e quando menos se espera, Hugo, Cleo e Alex comunicam que vão ter que se ausentar.
Mal saem, começa a funcionar a língua ferina de Volontê:
- Foram comer o camarão de Klebinho e não nos avisaram...
Depois, Bardalo's e Pratodomundo.


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